Construir a visibilidade dos cânceres ocupacionais. Uma pesquisa permanente em Seine-Saint-Denis
Resumen
Desde 2003, a prevenção dos cânceres ocupacionais tem sido considerada como uma prioridade sanitária que supõe uma produção de conhecimentos mobilizáveis por estratégias de proteção de trabalhadores assalariados contra a exposição profissional às causas carcinogênicas. A primeira parte deste artigo questiona a interpretação das desigualdades relacionadas ao câncer e coloca em evidência os limites do modelo dominante de interpretação da causalidade do câncer, fundado sobre o papel exclusivo de fatores comportamentais. Apoiando-se sobre as características do câncer, doença que se insere em um longo e complexo processo, a autora demonstra a tripla invisibilidade socialmente construída do câncer relacionado ao trabalho: a ignorância tóxica, a invisibilidade física e a invisibilidade social. A segunda parte apresenta uma pesquisa para a ação realizada desde 2001 com pacientes com câncer em três hospitais de Seine-Saint-Denis com o objetivo de reconstruir suas carreiras profissionais, identificar carcinógenos nessas carreiras e monitorar procedimentos para reconhecimento como doenças ocupacionais. Após um breve histórico da constituição da rede interdisciplinar e interinstitucional em que se realiza esta pesquisa, a autora apresenta o método e os resultados. Coloca-se em evidência a significativa poli-exposição ocupacional aos carcinógenos dos 684 pacientes acompanhados no estudo. Surge então outra história de cânceres ocupacionais, que segue a história das mudanças no trabalho e na produção económica, pondo em causa o modelo de referência para o reconhecimento dos trabalhadores ou ex-trabalhadores com câncer como doenças ocupacionais. Em conclusão, a autora propõe que a reconstrução das vias ocupacionais e as histórias de exposição se tornem uma dimensão necessária dos registros departamentais de câncer, possibilitando determinar, em nível local, quais as prioridades e estratégias a serem implementadas para a proteção dos trabalhadores contra a exposição ocupacional a carcinógenos.