Atuação sindical petroleira do Litoral Paulista
contradições, enfrentamentos e perspectivas para ações no campo da Saúde do Trabalhador
Resumo
Introdução: O sindicalismo brasileiro foi impactado pelos processos macropolíticos de ideologia neoliberal, com mudanças tecnológicas e organizacionais destruidoras do coletivo operário, impondo aos dirigentes sindicais novas estratégias de organização e ação, assumindo nas negociações coletivas posição de resistência à perda de direitos e ao declínio da mobilização dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, impactos como o aumento dos acidentes e de doenças relacionadas ao trabalho, com destaque na categoria petroleira para o possível aumento da prevalência de casos de câncer entre petroleiros aposentados, oriundos de contaminações de longa latência por benzeno e outras substâncias químicas presentes nas atividades de trabalho, questionam as ações sindicais.
Objetivo: Este artigo relata e analisa a prática sindical do Sindipetro do Litoral Paulista, como etapa preliminar ao desenvolvimento de ações de prevenção em saúde do trabalhador, a serem construídas em nova base de atuação sindical.
Metodologia: Por meio da pesquisa etnográfica foi possível compreender os modos de trabalho do sindicato a partir de seus próprios termos, o que permitiu colocar no espelho aspectos da história de luta pelos direitos e pela saúde da categoria petroleira, os rebatimentos neoliberais nas práticas atuais e refletir sobre as possibilidades de novos caminhos no campo da Saúde do Trabalhador (ST).
Resultados: Modalidades de enfrentamento e de resistência foram evidenciadas, assim como contradições fundamentais foram observadas, a saber: prevalência de ações de reparação de danos em detrimento de ações preventivas e a forte dependência de técnicos de instituições públicas na propositura de medidas de transformação. Observaram-se, todavia, inúmeras possibilidades e margem de ação para atuação voltada à prevenção. Atuação que depende da construção de competências no seio do próprio sindicato.
Conclusão: Nova perspectiva se abre, na qual a ‘técnica’ a ser desenvolvida não depende apenas dos agentes públicos especialistas, mas deva ser tratada como construção coletiva compartilhada visando nova atuação e organização sindical no campo da ST.
PALAVRAS-CHAVE: pesquisa etnográfica; prática sindical; saúde do trabalhador.
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