Questão ambiental e fragilidade do Estado Democrático de Direito

uma análise a partir da crise socioeconômica e do desmantelamento dos direitos sociais do trabalho

  • Karen Beltrame Becker Fritz Universidade de Passo Fundo (UPF)
  • Pedro Guimarães Vieira Universidade De Passo Fundo (UPF)
Palavras-chave: CRISE AMBIENTAL, CRISE DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, DIREITOS SOCIAIS., CRISE SOCIOECONÔMICA, SISTEMA CAPITALISTA

Resumo

Introdução: O artigo analisa as crises múltiplas do capitalismo desde a década de 1970, com enfoque em duas dimensões intensificadas a partir dos anos 2010: a crise ambiental resultado das mudanças climáticas e a crise política decorrente da desestruturação das democracias.

Objetivo/Metodologia: Tomando como referentes teóricos a noção de crise e a compreensão de que o sistema capitalista necessidade da contínua busca de novas possibilidades de acumulação de capital, utiliza-se o método dedutivo e a técnica de revisão bibliográfica com o objetivo de examinar como a crise de econômica provocou a desestruturação do Estado Social de Direito e o desmantelamento dos direitos trabalhistas, contribuindo para as crises ambientais e políticas.

Resultados: O resultado do estudo revela que, a partir da crise de econômica da década de 1970, houve a redução de formas de proteção social atreladas ao Estado Social de Direito e o rebaixamento dos direitos sociais trabalhistas, o que resultou numa piora contínua das condições de vida e reprodução social da população em geral, rompendo as promessas da modernidade delineadas a partir do pós-2ª Guerra Mundial. Inaugura-se, então, uma era de expectativas decrescentes que é aprofundada pela ocorrência de eventos climáticos extremos, que ressaltam a contradição entre a busca contínua do capitalismo por novas atividades e recursos naturais a serem explorados e a preservação das condições ambientais do planeta. A incapacidade de os Estados Nacionais fornecerem soluções viáveis às crises socioeconômica e ambiental favorece a ascensão de governos autoritários em todo o mundo, provocando o esgarçamento do pacto social e leva à crise da própria democracia.

Conclusão: A título de conclusão, argumenta-se que a solução das crises múltiplas do capitalismo depende da repactuação do contrato social para o século XXI, de modo a recuperar a centralidade do trabalho na ordem jurídica e reforçar a proteção da natureza.

PALAVRAS-CHAVE: crise ambiental; crise do Estado democrático de direito; crise socioeconômica; direitos sociais do trabalho; sistema capitalista.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Karen Beltrame Becker Fritz, Universidade de Passo Fundo (UPF)

Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Direito da Universidade de Passo Fundo (UPF). Professora Permanente do Programa de Mestrado em Administração (PPGADM) da Universidade de Passo Fundo. Doutora em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pós-Doutora em Direito pela Universidade de Sevilha (US). Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).  Lattes: http://lattes.cnpq.br/3756677940179047. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1739-1410. E-mail: karenfritz@upf.br.

Pedro Guimarães Vieira, Universidade De Passo Fundo (UPF)

Mestrando em Direito no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Passo Fundo (UPF). Graduado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Procurador do Trabalho do Ministério Público do Trabalho. Lattes: https://lattes.cnpq.br/1753031355938580. ORCID: https://orcid.org/0009-0007-1533-4424. E-mail: g.vieira.pedro@gmail.com.

Referências

ABRAMOVAY, Ricardo. Muito além da economia verde. São Paulo: Ed. Abril, 2012.

ACOSTA, Alberto. O bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Autonomia Literária, Elefante, 2016.

ADASCALITEI, Dragos; MORANO, Clemente Pignatti. Labour market reforms since the crisis: drivers and consequences. International Labour Office. Research Department. Working Paper n. 5. Geneva: ILO, 2015.

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho?: ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 11. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2006.

ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.

BAUMAN, Zygmunt. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Tradução José Gradel. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

BAUMAN, Zygmunt. Capitalismo parasitário: e outros temas contemporâneos. Tradução Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

BAUMAN, Zygmunt. Retropia. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

BAUMAN, Zygmunt. Trabajo, consumismo y nuevos pobres. Traducción Victoria los Angeles Boschiroli. Barcelona, Espanha: Editoral Gedisa, 1999.

BAUMAN, Zygmunt. Vida a crédito: conversas com Citali Rovirosa-Madrazo. Tradução Alexandre Werneck. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

BAUMAN, Zygmunt; BORDONI, Carlo. Estado de crise. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2010.

BROWN, Lester R. World on the edge: how to prevent environmental and economic collapse. New York: W.W. Norton & Company, 2011.

BROWN, Wendy. Cidadania sacrificial: neoliberalismo, capital humano e políticas de austeridade. São Paulo: Zazie Edições, 2018.

BRUNDTLAND, Gro Harlem. Nosso futuro comum: comissão mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991.

CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1998.

CASTEL, Robert. El ascenso de las incertidumbres: trabajo, protecciones, estatuto del indivíduo. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2010.

CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.

DOWBOR, Ladislau. A era do capital improdutivo: Por que oito famílias têm mais riqueza do que a metade da população do mundo?. São Paulo: Autonomia Literária, 2017.

ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

EMPOLI, Giuliano Da. Os engenheiros do caos. São Paulo: Vestígios, 2019.

FERRAJOLI, Luigi. Manifesto pela igualdade e por uma Constituição da Terra. Canoas, RS: Ed. Unilasalle, 2021.

FONTES, Vírginia. O Brasil e capital imperialismo: teoria e história. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2010.

FOSTER, John Bellamy. A ecologia da economia política marxista. Lutas sociais, São Paulo, n. 28, p. 87-104, 1º sem. 2012.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008.

GONÇALVES, Reinaldo; BAUMANN, Renato. Economia internacional: Teoria e experiência brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

GORZ, André. Farewell to the working class: An essay on post-industrial socialism. London: Pluto, 1982.

HÄBERLE, Peter. El Estado Constitucional. Mexico, DF: Universidad Nacional Autónoma de México, 2003.

HABERMAS, Jürgen. Problemas de legitimación en el capitalismo tardio. Madrid: Cátedra, 1999.

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 17. ed. São Paulo: Loyola, 2008.

HOBSBAWN, Eric J. A era dos impérios 1975-1914. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

LÖWY, Michael. Conservadorismo e extrema-direita na Europa e no Brasil. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 124, p. 652-664, out./dez. 2015.

LÖWY, Michael. Crise ecológica, capitalismo, altermundialismo: um ponto de vista ecossocialista. Margem Esquerda, São Paulo, n. 14, p. 36-42, 2010.

LÖWY, Michael. Crise ecológica, crise capitalista, crise de civilização: a alternativa ecossocialista. Caderno CRH, Salvador, v. 26, n. 67, p. 79-86, jan./abr. 2013.

LÖWY, Michael. Ecossocialismo e planejamento democrático. Crítica Marxista, n. 28, p. 35-50, 2009.

LÖWY, Michael. Lutas Ecossociais dos Indígenas na América Latina. Crítica Marxista, n. 38, p. 61-69, 2014.

LÖWY, Michael. O que é ecossocialismo?. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2014b.

LÖWY, Michael. Rosa Luxemburg et le communisme. Actuel Marx 2010/2, n. 48, p. 22-32.

LYNCH, Christian Edward Cyril. A utopia reacionária do governo Bolsonaro (2018-2020). Insight inteligência. Rio de Janeiro, n. 89, p. 21-43, abr./jun. 2020.

LYNCH, Christian Edward Cyril. Ascensão, fastígio e declínio da “revolução judiciarista”. Insight inteligência. Rio de Janeiro, n. 79, p. 158-171, out./dez. 2017.

LYNCH, Christian Edward Cyril; CASSIMIRO, Paulo Henrique Paschoeto. O populismo racionário no poder: uma radiografia ideológica da presidência Bolsonaro (2018-2021). Aisthesis. Santiago, Chile, n. 70. p. 223-249, 2021.

MASCARO, Alysson Leandro. Estado e forma política. São Paulo: Boitempo, 2013.

MCGRATH, Matt. Climate change: US formally withdraws from Paris agreement. BBC, London, 4 nov. 2020. Science. Disponível: https://www.bbc.com/news/science-environment-54797743. Acesso em 8 ago. 2023.

NOBRE, Marcos. Limites da Democracia: de junho de 2013 ao governo Bolsonaro. São Paulo: Todavia, 2022.

NUNES, Rodrigo. Do transe à vertigem: Ensaios sobre bolsonarismo e um mundo em transição. São Paulo: Ubu editora, 2022.

OFFE, Claus. Contractions of the Welfare State. London: Hutchinsonm & Co., 1984.

OFFE, Claus. Trabalho e sociedade: Problemas estruturais e perspectivas para o futuro da sociedade do trabalho. São Paulo: Tempo Brasileiro, 2011.

PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. São Paulo: Editora Intrínseca, 2014.

POLAYNI, Karl. A grande transformação: as origens de nossa época. Tradução de Fanny Wrabel. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.

SACHS, Ignacy. Inclusão social pelo trabalho decente: oportunidades, obstáculos, políticas públicas. Estudos avançados, v. 51, n. 18, p. 23-49, 2004.

SACHS, Ignacy. Rumo à ecossocioeconomia: teoria e prática do desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 2007.

SAITO, Kohei. O ecossocialismo de Karl Marx: capitalismo, natureza e crítica inacabada à economia política. São Paulo: Boitempo, 2021.

SANDEL, Michael J. A tirania do mérito: o que aconteceu com o bem comum?.1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus. 1. ed. Coimbra: Almedina, 2020.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Reinventar a democracia. 2. ed. Lisboa: Fundação Mário Soares, 2002.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

STANDING, Guy. O precariado: a nova classe perigosa. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.

STARLING, Heloisa Murgel; LAGO, Miguel; BIGNOTTO, Newton. Linguagem da destruição: A democracia brasileira em crise. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

STIGLITZ, Joseph E. The price of inequality: how today’s divided Society endangers our future. 1st. ed. New York: W. W. Norton & Company Inc., 2012.

STREECK, Wolfgang. Tempo comprado: a crise adiada do capitalismo democrático. Lisboa, Atual Editora, 2013.

TEITELBAUM, Benjamin R. Guerra pela eternidade: O retorno do tradicionalismo e a ascensão da direita populista. Campinas, SP: Editora UNICAMP, 2020.

VENTURA, Manoel. Guedes diz que dólar alto é bom: ‘empregada doméstica estava indo para Disney, uma festa danada’. O Globo, Rio de Janeiro, 12 fev. 2020. Economia. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/guedes-diz-que-dolar-alto-bom-empregada-domestica-estava-indo-para-disney-uma-festa-danada-24245365. Acesso em 8 ago. 2023.

YAZBEK Maria Carmelita; BELFIORE-WANDERLEY, Mariangela. Desigualdade e questão social. São Paulo: EDUC, 2000.

Publicado
2024-12-20
Como Citar
Beltrame Becker Fritz, K., & Guimarães Vieira, P. (2024). Questão ambiental e fragilidade do Estado Democrático de Direito: uma análise a partir da crise socioeconômica e do desmantelamento dos direitos sociais do trabalho. Revista Jurídica Trabalho E Desenvolvimento Humano, 7. https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.229
Edição
Seção
Artigos para o "Dossiê Ecologia, Sindicalismo e Direito do Trabalho"