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Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano
Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região
ARBOLEDA, Martín. TRABALHO: Corpos de extração e a produção de ambientes urbanos. Revista Jurídica Trabalho
e Desenvolvimento Humano, Campinas, v. 7, p. 1-51, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.267.
trabalho, o indivíduo “agindo sobre a natureza externa e modificando-a por meio
desse movimento, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza.”
14
A reorganização da indústria de mineração em cadeias produtivas globais,
como irei argumentar posteriormente, depende da produção de um organismo
industrial alienado e polarizador - o trabalhador coletivo - cuja constituição material
depende da distribuição desigual de atributos produtivos entre seus órgãos. A
existência dessa forma de vida socio-material é baseada, simultaneamente, na
expansão da subjetividade produtiva dos trabalhadores encarregados das partes mais
complexas do processo de trabalho (i.e., engenheiros, cientistas, geólogos,
financistas) e na degradação dos trabalhadores que atuam como meros apêndices
das infraestruturas tecnológicas ou que executam tarefas manuais ou de baixa
qualificação nas “economias de serviços” em expansão que gravitam em torno das
empresas de mineração (i.e., vendedores ambulantes, jardineiros, trabalhadores da
alimentação, prostituição). A consolidação desse segundo grupo, como esse capítulo
irá ilustrar, depende do ataque sistemático às formas de sociabilidade rural,
comunitária e agrária que foram associadas ao superciclo das commodities - um
fenômeno que é parte integrante do fator de impulso socioespacial generalizado ao
qual os estudiosos dos estudos agrários se referem como “descampezinação
global”
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. Com base em reinterpretações recentes da noção marxiana de trabalhador
coletivo
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, argumento que a capacidade produtiva que resulta desse organismo
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Conforme a tradução para o português em: MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política,
Livro I: O processo de produção do capital. Trad. Rubens Enderle, São Paulo, Boitempo, 2013, p. 327.
N.T.: os trechos mais longos de citação direta deste texto são do livro 1 do Capital. Por conta de as
traduções para o inglês serem substancialmente diferentes das brasileiras, entendemos ser mais
adequado nos utilizarmos da principal tradução circulada hoje no Brasil, a tradução realizada pela
Boitempo. Este trecho no original: “acts upon external nature and changes it, and in this way …
simultaneously changes his own nature.”
15
ARAGHI, Farshad. Global Depeasantization: 1945-1990, Sociological Quarterly, Vol. 36, No. 2, p.
337-368, 1995; ARAGHI, Farshad. Accumulation by Displacement: Global Enclosures, Food Crisis, and
the Ecological Contradictions of Capitalism. Review (Fernand Braudel Center), 32(1), p. 113–146,
2009
; MCMICHAEL, Philip. Peasant prospects in the neoliberal age. New Political Economy, v. 11, n.
3, p. 407–418, set. 2006;
VANHAUTE, Eric. Peasants, Peasantries and (de) Peasantization in the
Capitalist World-System. Routledge, p. 313-321, 2012; KAY, Cistóbal. La transformación neoliberal
del mundo rural: procesos de concentración de la tierra y del capital y la intensificación de la
precariedad del trabajo. Revista Latinoamericana de Estudios Rurales, v. 1, n. 1, p. 1–26, 16 jul.
2016.
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POSTONE, Moishe. Time, labor, and social domination: a reinterpretation of Marx’s critical theory.
Cambridge England ; New York: Cambridge University Press, 2006
; IÑIGO CARRERA, Juan. El Capital: