3
Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano
Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região
SEFERIAN, Gustavo; LÖWY, Michael. Ecologia, Sindicalismo e Direito do Trabalho: Apresentação. Revista Jurídica
Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, v. 7, p. 1-15, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.266.
resultantes da destruição provocada pelas intensas chuvas e enchentes ocorridas no
fim do primeiro semestre de 2024, como também a floresta amazônica enfrenta uma
das suas mais drásticas estiagens, que leva rios caudalosos a secar e à escassez de
condições de existência da flora e fauna, impactando largamente a vida de
populações indígenas, ribeirinhas e também os habitantes da Amazônia urbana. Isso
tudo enquanto o país arde com queimadas inauditas, em sua massa maioria já
comprovadamente de origem criminosa, matando infindos animais, reduzindo as
áreas florestais e de plantio de alimento – sobretudo da agricultura familiar e
assentamentos da reforma agrária –, sufocando com suas fumaças a população que,
hoje, em diversos centros urbanos brasileiros, respira o ar de pior qualidade de todo
o planeta.
De norte a sul do Brasil – a tomarmos exemplo local, que caso projetado à
escala internacional por certo nos proporcionaria cenário ainda mais repleto de casos
alarmantes –, a Mãe-Terra agoniza ante a ação violenta do agronegócio, das
mineradoras e da grande indústria, que, em compasso acelerado de predação e busca
pela garantia das suas margens de lucro, não só intensifica a exploração da força de
trabalho como da apropriação da natureza, sabidas que são estas – ao menos desde
a Crítica ao Programa de Gotha2 – as únicas fontes de toda riqueza social.
Revelam, assim, sintomáticas manifestações da dimensão ambiental da
contemporânea crise da civilização capitalista, industrial, moderna e ocidental, que
não pode ser compreendida senão como uma conjugação de sismos em todos os
alicerces de sustentação deste modo de vida (ou seria de destruição de vida?), com
facetas econômicas, políticas, morais, da reprodução social e, como não poderia
deixar de ser, a particularidade de contar com pronunciada feição climática. Ocorre,
porém, que dado o afã de afirmação em escala global desta civilização, erigida à
imagem e semelhança da mercadoria e suas necessidades, bem como por sua
capacidade autodestrutiva, guarda consigo um potencial de eliminação de todas as
demais civilizações humanas que ainda hoje resistem à expansão capitalista, ou
mesmo de interdição da continuidade da vida humana na Terra sob outros registros
2 MARX, Karl. Crítica ao Programa de Gotha. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2012.