Recebido em: 30/09/2024
Aprovado em: 18/11/2024
Greenwashing: a lógica colonial nas pautas de
sustentabilidade da iFood
Greenwashing: the colonial logic of
iFood’s sustainability agenda
Greenwashing: la lógica colonial en las
agendas de sostenibilidad de iFood.
Marcos Aragão Couto de Oliveira
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0936127575731521
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5180-0524
Maísa Sampietro Pinheiro
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8660917392223431
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2590-9993
Carolina de Figueiredo Garrido
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7448418345364018
ORCID: https://orcid.org/0009-0009-0493-6192
Isabel Nolding Maia
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3461387141566250
ORCID: https://orcid.org/0009-0006-0377-1312
RESUMO
Introdução: O estudo mobilizou teorias decoloniais para questionar como as
pautas de sustentabilidade das empresas atravessam a exploração do
trabalho plataformizado com estratégias de "maquiagem verde"
(greenwashing), operando como uma versão colonial de falsa
sustentabilidade.
Objetivo: Esse artigo analisa as ações de sustentabilidade da empresa iFood,
verificando se de fato possuem algum impacto real para o meio ambiente e
como tais ações se relacionam com as condições de trabalho dos
entregadores e das entregadoras.
Metodologia: Para a investigação foram utilizados os próprios materiais
publicitários da iFood, em conjunto com reportagens jornalísticas
especializadas no tema. Foram apresentados estudos de casos de quatro
ações de sustentabilidade divulgados pela empresa iFood e contrapostos com
o uso de literatura espefica sobre plataformização, sustentabilidade e
colonialidade.
Resultados: Identificamos que a iFood não contribui materialmente nas
ações de sustentabilidade. Em verdade, suas ações acabam por transferir
todos os custos e riscos para seus parceiros, os restaurantes e,
principalmente, para entregadores e entregadoras, que são obrigados a
dispender de parte de sua saúde física, financeira e segurança pessoal para
acomodar as “vantagens” dos programas no seu dia a dia de trabalho.
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Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano
Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região
OLIVEIRA, Marcos A. C. de; PINHEIRO, Maísa S.; GARRIDO, Carolina de F.; MAIA, Isabel N.. Greenwashing: a lógica
colonial nas pautas de sustentabilidade da iFood. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas,
v. 7, p. 1-31, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.255.
Conclusão: Concluímos que a iFood pratica greenwashing, não apresentando
qualquer contribuição real e praticando uma exploração física e financeira
de seus entregadores e entregadoras.
PALAVRAS-CHAVE: colonialidade; greenwashing; plataformização;
sustentabilidade.
ABSTRACT
Introduction: This study mobilizes decolonial theories to investigate how
corporate sustainability agendas intersect with the exploitation of
platformized labor through strategies of greenwashing, functioning as a
colonial version of false sustainability.
Objective: This article analyzes iFood's sustainability initiatives, assessing
whether they have a genuine impact on the environment and how these
initiatives relate to the working conditions of delivery personnel.
Methodology: This investigation utilized the advertising materials produced
by iFood, in conjunction with specialized journalistic reports on the subject.
Case studies of four sustainability initiatives promoted by iFood were
presented and analyzed alongside relevant literature on platformization,
sustainability, and coloniality.
Results: Our analysis revealed that iFood does not materially contribute to
sustainability efforts. In fact, its initiatives tend to transfer all costs and
risks to its partners, particularly the restaurants and, more significantly, to
the delivery workers, who are compelled to expend part of their physical
health, financial stability, and personal safety to accommodate the
"benefits" of these programs in their daily work.
Conclusion: We conclude that iFood engages in greenwashing, failing to
provide any real contributions while exploiting its delivery personnel both
physically and financially.
KEYWORDS: coloniality; greenwashing; platformization; sustainability.
RESUMEN
Introducción: Este estudio moviliza teorías decoloniales para interrogar
cómo las agendas de sostenibilidad corporativa se cruzan con la explotación
del trabajo en plataformas a través de estrategias de "maquillaje verde"
(greenwashing), funcionando como una versión colonial de falsa
sostenibilidad.
Objetivo: Este artículo analiza las acciones de sostenibilidad de iFood,
evaluando si realmente tienen un impacto genuino en el medio ambiente y
cómo estas acciones se relacionan con las condiciones de trabajo de los
repartidores.
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v. 7, p. 1-31, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.255.
Metodología: Para esta investigación se utilizaron los materiales
publicitarios de iFood, junto con reportajes periodísticos especializados en
el tema. Se presentaron estudios de caso de cuatro iniciativas de
sostenibilidad promovidas por la empresa iFood y se contrastaron con
literatura específica sobre plataformas, sostenibilidad y colonialidad.
Resultados: Nuestro análisis reveló que iFood no contribuye materialmente
a los esfuerzos de sostenibilidad. De hecho, sus iniciativas tienden a
transferir todos los costos y riesgos a sus socios, especialmente a los
restaurantes y, más significativamente, a los repartidores, quienes se ven
obligados a destinar parte de su salud física, estabilidad financiera y
seguridad personal para acomodar las "ventajas" de estos programas en su
trabajo diario.
Conclusión: Concluimos que iFood practica greenwashing, sin presentar
ninguna contribución real y llevando a cabo una explotación física y
financiera de sus repartidores.
PALABRAS CLAVE: colonialidade; greenwashing; plataformaización;
sostenibilidad.
INTRODUÇÃO
O avanço da plataformização se revela como um dos principais desafios no
mundo do trabalho contemporâneo, se apresentando como um modelo de negócio e
exploração laboral que põe em risco o próprio papel protetivo do Direito do
Trabalho1. O crescimento dessa tendência é apresentado por Collier, Dubal e Carter
como um modelo de desregulamentação, quando empresas como a Uber entram em
mercados estabelecidos utilizando-se de estratégias agressivas de desrespeito às
normas daquela atividade, oferta de preços artificiais que inviabilizam a
concorrência e, principalmente, a exploração da mão de obra em relações precárias
que rejeitam os direitos trabalhistas mais elementares2.
1 OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio; CARELLI, Rodrigo de Lacerda; GRILLO, Sayonara. Conceito e
crítica das plataformas digitais de trabalho. Revista Direito e Práxis, [S. l.], v. 11, p. 2609-2634,
2020, p. 2622.
2 COLLIER, Ruth Berins; DUBAL, Veena B.; CARTER, Christopher L. Disrupting regulation, regulating
disruption: The politics of Uber in the United States. Perspectives on Politics, [S. l.], v. 16, n. 4, p.
919-937, 2018, p. 920.
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Após se estabelecerem em posições dominantes no mercado, as empresas
protagonistas na plataformização do trabalho passam a operar em uma segunda fase
da desregulamentação, criando condições jurídicas para a continuidade do modelo
de trabalho plataformizado. Essa etapa consiste na participação ativa nos processos
de criação de normas e políticas públicas, seja no debate legislativo para a criação
de leis específicas em nível nacional para o setor3, seja nos âmbitos das
administrações locais e municipais4. Ainda mais, verifica-se um esforço por parte
dessas empresas para uma atuação no judiciário para uma criação de jurisprudência
desfavorável aos trabalhadores e trabalhadoras, se utilizando de acordos para evitar
condenações e, dessa forma, impedir julgamentos que reconheçam o vínculo
empregatício5.
Porém, as estratégias de desregulamentação das empresas não se limitam ao
campo jurídico. Como Graham e Woodcock apontam, uma das condições para o
avanço da plataformização do trabalho é cooptação e manipulação das “atitudes e
preferências dos consumidores”6. Os autores lembram como a Uber mobilizou a
opinião pública para pressionar a administração de Londres quando sua licença para
operar na cidade foi ameaçada, criando uma percepção que regulações seriam contra
o interesse da população. De forma semelhante, Dubal relata como a Uber e suas
concorrentes se uniram para apoiar e financiar uma campanha a favor da aprovação
da Proposição 22 na Califórnia, ação que não somente beneficiava juridicamente
suas atividades, mas moldou a opinião pública no sentido que tais empresas eram
benéficas para a sociedade7.
3 ANTUNES, Diogo de Carvalho. O grupo tripartite brasileiro e os desafios de compor uma proposta de
regulação do trabalho coordenado por plataformas digitais. Mercado de Trabalho, Brasília, n. 77,
Abril/2024, p. 18.
4 COLLIER, Ruth Berins; DUBAL, Veena B.; CARTER, Christopher L. Disrupting regulation, regulating
disruption: The politics of Uber in the United States. Perspectives on Politics, [S. l.], v. 16, n. 4, p.
919-937, 2018, p. 920.
5 ORSINI, Adriana Goulart de Sena; LEME, Ana Carolina Reis Paes. Litigância manipulativa da
jurisprudência e plataformas digitais de transporte: levantando o véu do procedimento conciliatório
estratégico. Revista eletrônica [do] Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Curitiba, v. 10, n.
95, p. 24-44, 2021, p. 27.
6 WOODCOCK, Jamie; GRAHAM, Mark. The gig economy: a critical introduction. Cambridge: Polity,
2019, p. 38.
7 DUBAL, Veena. The new racial wage code. Harvard Law & Policy Review, Cambridge, v. 15, p. 511-
549, 2021, p. 514.
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Dessa forma, as preferências e atitudes dos consumidores se revela um campo
em disputa. Para isso, as empresas se beneficiam de a comodidade dos seus serviços
serem facilmente acessíveis por meio de plataformas digitais, dispensando (ou
escondendo) todo contato humano, disponibilizando serviço quase imediato e
frequentemente com preços atrativos (subsidiados pela baixa remuneração pelo
trabalho).
Porém, as estratégias utilizadas pelas empresas vão além da competitividade
de seus serviços, mas também operam nos formatos de campanhas de publicidade
reputacional, almejando influenciar positivamente a opinião pública em relação à
sua atividade. Ao abordar temas de pautas sociais, empresas divulgam materiais com
discursos de responsabilidade, diversidade e sustentabilidade, visando criar uma
imagem positiva que oculta os efeitos precarizantes da plataformização.
Nesse sentido, esse artigo tem como objetivo analisar as estratégias de
greenwashing realizadas pela empresa iFood no Brasil. A escolha dessa empresa se
deu pelo seu protagonismo na plataformização em nosso país8, não somente pela sua
posição de monopólio no mercado nacional, mas também pelo seu uso substantivo
de campanhas de publicidade e ações/patrocínio de eventos com o tema de
sustentabilidade ambiental, ações que são analisadas ao longo do texto. Assim como
a Uber representa o modelo de desregulamentação em âmbito global, a iFood assume
esse papel no Brasil.
Para fins de coleta de informações das ações greenwashing da iFood,
utilizamos como fonte, sempre que possível, publicações da autoria da própria
empresa em seus diversos sítios eletrônicos. Adicionalmente, mencionamos
reportagens jornalísticas especializadas sobre eventos específicos patrocinados pela
iFood, ou apurações sobre suas condições ou resultados. Por vezes foi necessário
recorrer às publicações em perfis em redes sociais dos próprios trabalhadores e
trabalhadoras, como vídeos na plataforma Youtube. Isso se revelou necessário, pois
certas ações promovidas pela iFood tiveram seu conteúdo retirado de seus sítios
eletrônicos e redes sociais, demonstrando uma dificuldade de pesquisa quando a
8 FAIRWORK. Fairwork Brazil Ratings 2021: Towards Decent Work in the platform economy. Porta
Alegre, Brazil; Oxford, United Kingdom; Berlin, Germany. 2022, p. 17.
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empresa parece ocultar os registros de projetos que não tiveram boa recepção
pública ou que foram abandonados pela empresa.
Para a análise do tema, partimos de uma crítica à colonialidade como ponto
fundamental na conexão da exploração do trabalho plataformizado com as políticas
de greenwashing realizadas pela iFood. Recorremos à posição de Abílio de que a
plataformização se apropria do “modo de vida periférico” do Sul Global,
instrumentalizando o alto nível de informalidade, de forma a inaugurar uma nova
forma de controle centralizada desse trabalho9.
É necessário pensar a plataformização do trabalho não como uma tendência
do Norte Global que foi importada para o Sul Global, mas sim como a nossa herança
colonial serve de terreno fértil para que a plataformização se torne norma e se
globalize. Nesse sentido, Abílio argumenta que esse “modo de vida periférico” do Sul
é replicado no Norte através do trabalho plataformizado, afetando principalmente
imigrantes, pessoas não-brancas e imigrantes10.
Nesse sentido, apresentamos noções fundamentais da decolonialidade com o
objetivo de elucidar como a modernidade/colonialidade é base para uma divisão do
mundo entre dominantes e dominados, lógica essa que guia tanto a exploração dos
corpos das pessoas que trabalham, quanto a subjugamento do meio ambiente
perante o ser humano e o capitalismo.
Através dessa lente, apresentamos como os discursos e ações de
sustentabilidade da iFood não passam de estratégias de greenwashing, ou de
maquiagem verde, se destinando a uma versão falsa e colonial de sustentabilidade,
sem quaisquer efeitos práticos para a preservação do meio ambiente, apenas com
objetivo de conquistar a opinião pública e que operam na lógica da financeirização.
Concluímos, então, que as ações de sustentabilidade da iFood se aproveitam
desse discurso vazio de sustentabilidade, sem demonstrar que a empresa de fato
contribua para a pauta. Pelo contrário, todas as ações propostas pela empresa
9 ABÍLIO, Ludmila. Uberização, autogerenciamento e o governo da viração. Margem a Esquerda:
revista da Boitempo, São Paulo, n. 36, 2021, p. 58-59.
10 ABÍLIO, Ludmila Costhek. Plataformas digitais e uberização: globalização de um sul administrado?
Contracampo, Niterói, v. 39, n. 1, p. 12-26, abr./jul. 2020, p. 24. Disponível em:
https://periodicos.uff.br/contracampo/article/view/38579/html_pt. Acesso em: 5 jun. 2024.
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repassam por completo todos os custos e riscos para outras partes, seja para os
restaurantes ou, principalmente, para seus entregadores e entregadoras.
Majoritariamente jovens negros e periféricos11, a iFood parece acreditar que é
sustentável a (falsa) substituição de combustíveis pela saúde e integridade dessas
pessoas, na forma da sua energia vital pedalando, do arriscar de suas vidas e se
endividarem para subsidiar as metas verdes da empresa.
O artigo foi estruturado em três tópicos: o primeiro com diálogo decolonial
com as obras de Aníbal Quijano, Walter Mignolo e Catherine Walsh; o segundo com a
apresentação do conceito de greenwashing e visão crítica dos discursos de
sustentabilidade; o terceiro os estudos de caso das ações de “sustentabilidade”
realizadas pela iFood.
1 A colonialidade e a construção da lógica colonial que atravessam o controle do
trabalho e as políticas de sustentabilidade
A proposta deste artigo é estimular a discussão de como podemos entender os
discursos de “sustentabilidade” sob a lente do mundo do trabalho, atravessando-os
no conceito da colonialidade. Este movimento consiste em reconhecer e analisar as
forças políticas, sociais, econômicas e culturais que operam nestes lugares, na
medida em que o lugar do poder se desloca e amplia o seu campo de atuação.
O termo colonialidade foi introduzido na América Latina pelo sociólogo Aníbal
Quijano, que investigou as forças de poder que foram expandidas no final da Guerra
Fria e com a globalização do sistema neoliberal. Essas forças tiveram como bases: (i)
a classificação racial das pessoas na América Latina (que produziu novas identidades
sociais, como: índios [SIC], negros e mestiços [SIC]) e, a partir disso, uma
configuração de relações de dominações associadas a hierarquias, lugares e papéis
sociais; (ii) da naturalização destas relações de dominação, na qual os povos
colonizados são as raças inferiores e os colonizadores são os brancos europeus; e (iii)
11 ABÍLIO, Ludmila Costhek. Uberização e juventude periférica: desigualdades, autogerenciamento e
novas formas de controle do trabalho. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, v. 39, n. 3, p. 579-597,
Dez/2020, p. 587.
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da constituição do capitalismo moderno (colonial e eurocentrado) como o novo
padrão de poder mundial e nova estrutura mundial de controle do trabalho12.
A operacionalização dessas bases passou a ser feita em torno de três grandes
eixos: o domínio epistêmico (colonialidade do saber), domínio ontológico
(colonialidade do ser) e domínio do poder (colonialidade do poder), que inserem um
novo padrão mundial ordenado pela matriz de poder colonial13. A colonialidade,
nestes termos, não se restringe aos tempos das colônias e imerge ainda mais no seu
objetivo de manter o eurocentrismo como única hegemonia mundial, situando-o
como único horizonte possível.
O eurocentrismo, que situa a perspectiva europeia como a única protagonista
na “criação” da modernidade, se torna vinculada às ideias de desenvolvimento,
ciência e racionalidade14. A responsável pela constituição e expansão dos direitos
das pessoas, da forma progressista de viver a vida e do desenvolvimento científico
para refinaras tecnologias utilizadas nas relações sociais, nos recursos e produtos.
Neste sentido, e atrelado à forma de dominação que a hegemonia
eurocêntrica se baseia, a modernidade transformou e disseminou os ideais/eixos da
colonialidade por trás de um disfarce de progresso, inovão e evolução, tornando-
a o “lado obscuro da sociedade moderna15. Ou seja, se a modernidade é um
12 Quijano utiliza os termos “índio” e “mestiços” como construções coloniais, ou seja, são expressões
generalizantes, que refletem como a criação de novas identidades pelo dominante constituem
atributos pejorativos e desumanizantes na América Latina. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder,
Eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber:
eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 118.
13 Quijano compreende que a globalização, a constituição da América e do capitalismo
colonial/moderno e eurocentrado implementaram um novo padrão de poder, formando uma matriz
colonial do poder. Um dos eixos que esse poder escolher operar é através da classificação social da
população a partir do conceito de raça, “uma construção mental que expressa a experiência básica
da dominação colonial e que desde então permeia as dimensões mais importantes do poder mundial,
incluindo sua racionalidade específica, o eurocentrismo. Esse eixo tem, portanto, origem e caráter
colonial, mas provou ser mais duradouro e estável que o colonialismo em cuja matriz foi estabelecido”
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo
(org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas.
Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 2.
14 QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo
(org.) A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas.
Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 3.
15 MIGNOLO, Walter; WALSH, Catherine E. On decoloniality: concepts, analytics and praxis. Durham:
Duke University Press, 2018, p. 142.
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conjunto de narrativas, a colonialidade é tudo aquilo que as narrativas
escondem/disfarçam, aquilo que não pode ser enunciado16.
À luz dessa narrativa moderna/colonial, a lógica colonial atravessa todos os
campos da vida, incluindo, o controle do trabalho e da utilização materialista do
meio ambiente, de forma conexa. Isto porque nos domínios da matriz colonial do
poder, a natureza/meio ambiente e o trabalho estão inseridos na busca pelo
controle, por exemplo, da economia e da política17.
Ambos têm sido debatidos dentro do projeto modernidade/colonialidade, o
que nos leva a um foco desta investigação dentro do escopo do trabalho e da
sustentabilidade, que é a noção de greenwashing18, ou maquiagem ambiental. Trata-
se de uma prática utilizada por empresas, organizações e governos com o objetivo
de se posicionarem para a sociedade (e mercado) como apoiadoras ou participantes
da pauta de sustentabilidade e defesa do meio ambiente. Contudo, em realidade, é
um movimento hostil que impacta diretamente as relações de trabalho, eis que o
efeito destas mobilizações é o deslocamento de custos que seriam da empresa para
os trabalhadores e trabalhadoras.
A crítica decolonial nos desafia a enfrentar soluções de sustentabilidade de
forma cética, exigindo uma investigação que não se deixe enganar por propostas
vazias, verificando os verdadeiros impactos poluentes e seus custos sociais.
16 MIGNOLO, Walter; WALSH, Catherine E. On decoloniality: concepts, analytics and praxis. Durham:
Duke University Press, 2018, p. 141.
17 MIGNOLO, Walter; WALSH, Catherine E. On decoloniality: concepts, analytics and praxis. Durham:
Duke University Press, 2018, p. 138.
18 Segundo o Glossário do Observatório Interdisciplinar das Mudanças Climáticas (OIMC): “O termo é
utilizado para se referir a práticas discursivas e operacionais de uma empresa que se utiliza de
algumas estratégias de comunicação e marketing para parecer mais sustentável do que é aos olhos de
seus clientes, fornecedores, consumidores e da sociedade em geral. Com o crescente interesse dos
consumidores por mercadorias ecologicamente sustentáveis, as empresas buscam colocar, em seus
produtos, selos que as associem à prática de processos ecológicos, como, por exemplo, eficiência
energética, caráter biodegradável, possibilidade de reciclagem, certificação privada de origem de
matérias-primas etc. Além disso, há um amplo investimento em publicidade para apresentar o produto
como “verde”. Essas estratégias comerciais visam a desviar a atenção de processos ambientais
danosos causados pela empresa em alguma etapa da cadeia produtiva. Muitas vezes, o investimento
em greenwashing supera os valores investidos de fato em tornar a produção dessa empresa mais
sustentável.” OIMC. “Verbete Greewashing”, Glossário. Disponível em:
http://obsinterclima.eco.br/glossario/. Acesso em: 20 set. 2024.
10
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v. 7, p. 1-31, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.255.
Portanto, a introdução do conceito da colonialidade nas investigações da
perspectiva trabalhista no greenwashing faz um serviço importante: nomear a lógica
que fundou a civilização ocidental19 e que ocultou determinadas práticas econômicas
e políticas sob a pretensão de expandir o padrão de poder colonial nas práticas
trabalhistas e ambientais.
2 Greenwashing: estratégias de maquiagem reputacional
Como explorado no tópico anterior, simultaneamente à constituição da
América Latina, o capitalismo toma o lugar de nova estrutura mundial do controle
do trabalho, estabelecendo um padrão global articulado com a colonialidade e a
produção de novas identidades históricas a partir do conceito de raça. Isto significa
que, neste movimento relacional de dominação, aprende-se novas formas e
tecnologias de exploração no contexto do trabalho.
Não somente, mas de forma interligada, este modelo também impacta a
relação com o meio ambiente nos prejuízos causados pela lógica colonial e pela
dominação da natureza, seus recursos e produtos.
É o caso, por exemplo, das ações de publicidade sobre o tema de
sustentabilidade e meio ambiente. A noção de greenwashing (maquiagem ambiental)
é inserida neste contexto para questionar a materialidade e eficácia dessas políticas
que hoje o muito direcionadas às plataformas digitais.
Um dos fatores que influenciou essas práticas utilizando plataformas digitais,
modificando e amplificando sua intensidade, foi a crise social sanitária causada pela
COVID-19. A gravidade social e econômica da crise abriu espaço para as empresas
praticarem essas ações de publicidade, se apresentando como alternativas para
esperança, além das práticas de publicidade digital terem se tornado mais comuns e
invasivas.
19 MIGNOLO, Walter. Colonialidade: o lado mais obscuro da modernidade. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, São Paulo, vol. 32, nº 94, jun./2017, p. 2.
11
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OLIVEIRA, Marcos A. C. de; PINHEIRO, Maísa S.; GARRIDO, Carolina de F.; MAIA, Isabel N.. Greenwashing: a lógica
colonial nas pautas de sustentabilidade da iFood. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas,
v. 7, p. 1-31, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.255.
Algumas das atividades dessas plataformas foram identificadas como
essenciais pelas normas sanitárias do país. Entre eles, dois se destacam: os serviços
de entrega e serviços de transporte particular. As relações de trabalho ali exercidas
se mantiveram durante a pandemia em operação e sem qualquer regulação, ao
contrário de outros setores essenciais20.
Ao se apresentarem como solução para aqueles que puderam se isolar, a lógica
das plataformas avança como protagonista no imaginário sobre o “futuro do
trabalho”, além de representar parcela relevante do trabalho informal no país.
Este conjunto de práticas de maquiagem passou a fazer parte da forma como
as empresas tomavam decisões estratégicas internas e aquelas voltadas para o
impacto no coletivo. Estas são autodenominadas “boas práticas” comuns às empresas
e passaram a ser conhecidas como ESG (Environmental, Social, and Governance), ou
seja, modelos de medidas de quesito social, ambiental e de governança, voltadas
para o desenvolvimento sustentável e o bem-estar social. As empresas, então,
passam a promover e internalizar estas regras para obter apoio financeiro e da
coletividade, de modo a expandir o seu alcance entre os consumidores e investidores.
Por outro lado, o ESG também representa uma tentativa de empresas de
cooptar para si as pautas ambientais e sociais a partir da lógica neoliberal de
mercado, sob o paradigma da autorregulação. Nesta lógica, as empresas se
apropriam do título de portadoras e aplicadoras de boas práticas (ESG) para se
autonomear como os atores mais eficientes no controle da sustentabilidade e da
responsabilidade social, rechaçando a regulação estatal como burocrática, lenta e
inefetiva21.
20 OLIVEIRA, Dalila Andrade; POCHMANN, Marcio (Org.). A Devastação do trabalho: a classe do labor
na crise da pandemia. 1ª Ed. Brasília: Gráfica e Editora Positiva: CNTE - Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação e Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente, 2020,
p. 262.
21 Nesse sentido, “[o] Estado transforma-se, numa unidade produtiva, a política torna-se cada vez
mais privatizada e atores do mercado se revelam como partes estratégicas e interessadas
(stakeholders) na manutenção dos custos com direitos sociais. Surgem, nesse movimento complexo,
as noções de “boa governança”, baseadas numa responsabilidade horizontal de hierarquias
correlacionadas. No entanto, nesse sistema de negociação neoliberal, desigualdades são acentuadas
e as bases fundamentais das instituições e dos processos democráticos são colocadas em questão por
práticas pouco controláveis e pouco participativas, a objetividade econômica, numa retórica de
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colonial nas pautas de sustentabilidade da iFood. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas,
v. 7, p. 1-31, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.255.
Para tanto, e levando em conta o modelo capitalista aplicado que tem o lucro
como principal objetivo, as empresas passam a buscar maneiras de burlar essas
promessas de sustentabilidade através de marketing enganoso ou outras medidas
chamativas de publicidade, porém, intencionalmente pouco efetivas.
Este é o fenômeno do greenwashing: quando empresas ou organizações fazem
afirmações falsas ou exageradas sobre serem ecologicamente corretas com o
objetivo de se apresentar mais sustentáveis do que realmente são. A fim de explorar
este tema, selecionamos práticas e publicidades realizadas pela iFood que explanam
suas estratégias de marketing para se apresentar como uma empresa sustentável
mascarando, contudo, os seus reais objetivos de majoração de lucros e redução de
prejuízos que são transferidos às trabalhadoras e trabalhadores.
3 Ações de “sustentabilidade” da iFood
A escolha da iFood para este trabalho se dá por esta empresa ser uma das
protagonistas no processo de plataformização no Brasil e desenvolve projetos e
programas que operam em ressonância com a colonialidade do trabalho, promovendo
movimentos de desregulação e desmantelamento das relações igualitárias de
trabalho, eis que tem como objetivo central a obtenção de lucro e redução de custos.
Objetivo este ocultado por promessas e publicidades de valorização, melhorias e
desenvolvimento coletivo, como será observado abaixo.
Analisaremos quatro casos diferentes de publicidades e projetos reais
realizados pela empresa iFood: (i) o uso de embalagens sustentáveis, (ii) as metas
Net Zero, (iii) o programa Bike Pedal e (iv) os programas de incentivo de compra de
veículos elétricos por parte das entregadoras e entregadores.
“ineficiência burocrática” toma destaque.” (AMPARO, Thiago de Souza; ANDRADE, Odara Gonzaga de;
PEREIRA, Fernanda Reis Nunes. Capitalismo Antidiscriminatório? Bolsa de Valores e Governança de
Diversidade. Revista Direito e Práxis, [S. l.], v. 14, n. 03, p. 1929-1930, 2023.
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colonial nas pautas de sustentabilidade da iFood. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas,
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3.1 Redução do plástico: uso de embalagens sustentáveis
A primeira política de sustentabilidade interna da iFood é a sua contribuição
para a redução do plástico com o uso de embalagens ecológicas desenvolvidas com
materiais recicláveis. Para tanto, a iFood busca reduzir as embalagens de uso único,
substituindo-as por embalagens feitas de material sustentável e, também, reduzindo
o envio de garfos, colheres, facas, canudos e outros itens plásticos na entrega.
Contudo, a iFood se auto classifica como uma empresa de tecnologia,
intermediando entregas de restaurantes parceiros que serão realizadas por
entregadores. Isto significa que a empresa supostamente apenas disponibiliza
serviços na plataforma, sem detalhar concretamente como atuará, em larga escala,
para gerenciar o acesso a estas embalagens ecológicas22. Como pode a “mera
intermediação” de uma “empresa de tecnologia” contribuir para a redução de
embalagens poluidoras? Não seria isso uma confissão que a iFood é realmente uma
empresa de logística de entregas?
Ao verificar sua página disponível em sítio eletrônico sobre a meta de
introduzir embalagens sustentáveis, a empresa não elucida como participará deste
movimento nos seguintes pontos essenciais: (i) quais auxílios irá promover para que
todos os seus colaboradores, na cadeia de fornecimento, consigam trocar suas
embalagens, (ii) se haverá incentivos internos para os restaurantes consigam fazer
esta transição de modo que não prejudique a saúde financeira do estabelecimento,
dentre outras questões que rodeiam o tema23.
Tal fato também é perceptível ao examinar as parcerias com outras empresas,
como é o caso da Suzano. Ambas acordaram cooperar no desenvolvimento de
embalagens livres de plástico, porém, a ação foi restrita a um evento somente: o
22 A estratégia de ausência de informações suficientes para embasar uma afirmação de
sustentabilidade ou cumprimento de uma meta anunciada é uma das mais associadas às práticas de
greenwashing e climate-washing. Cf. BENJAMIN, Lisa et al. Climate-Washing Litigation: legal liability
for Misleading Climate Communications. Policy Briefing, The Climate Social Science Network,
January 2022, p. 5-6. Disponível em: https://ora.ox.ac.uk/objects/uuid:59e6d33f-bd8a-4375-9268-
730a845e8aae/files/sn870zs466. Acesso em: 20 set. 2024.
23 iFood. Embalagens sustentáveis. Ifood institucional, publicado em 26 de abril de 2023, paginação
irregular. Disponível em: https://institucional.ifood.com.br/sustentabilidade/embalagens-
sustentaveis/. Acesso em: 26 set. 2024.
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Rock in Rio de 202224, servindo-se de uma enorme publicidade de participação
empresarial em mudanças sociais e sustentáveis que, na prática, teve duração
limitada e atuação pontual.
Após o evento, a iFood firmou uma parceria com a growPack para a
distribuição de 500 mil unidades de embalagens sustentáveis feitas de palha de
milho25. A ação durou cerca de quatro meses, entre abril e agosto de 2023, com a
informação que após o seu término, seria possível encontrar as embalagens da
growPack na iFood Shop, a loja da própria iFood que fornece material para os
restaurantes que utilizam a plataforma.
Embalagens biodegradáveis da empresa growPack26 custam quatro vezes mais
que embalagens de isopor tradicionais27, a situação se difere em escala regional,
podendo chegar, na região Norte do país, a uma diferença de R$3,00 entre uma
embalagem reciclada e uma nova28. Quer dizer, esta parceria tem como resultado
uma operação de marketing limitada e que, após o seu fim, depende unicamente da
viabilidade financeira dos restaurantes, sem qualquer incentivo ou distribuição de
custos por parte da iFood.
Outro exemplo é a ação da iFood em parceria com outra empresa, a Klabin,
também com relação a embalagens sustentáveis, que ocorreu entre 28 de maio e 5
de junho29. A ação visava distribuir um trio de embalagens contendo a caixa do
24 IFOOD. iFood e Suzano investem na redução de impacto ambiental no Rock in Rio com embalagens
sustentáveis livres de plástico. Ifood Institucional, 1 set. 2022. Disponível em:
https://www.news.ifood.com.br/ifood-e-suzano-investem-na-reducao-de-impacto-ambiental-no-
rock-in-rio-com-embalagens-sustentaveis-livres-de-plastico/. Acesso em: 5 jun. 2024.
25 IFOOD. Embalagem de palha de milho substitui a de plástico no iFood. IFood Institucional, 26 abr.
2023. Disponível em: https://institucional.ifood.com.br/inovacao/embalagem-de-palha-de-milho-
growpack-ifood/. Acesso em: 21 set. 2024.
26 De acordo com o site de compras da growPack, o pacote com 200 unidades com capacidade de
850ml faz com que cada unidade saia a R$2,32. In GROWPACK. Valores de embalagens. Disponível
em: https://loja.growpack.bio/produtos/gbox-850ml1/. Acesso em: 21 set. 2024.
27 De acordo com o site da WHB Descartáveis, o pacote com 200 unidades com capacidade de 900ml
faz com que a cada unidade saia a R$0,56. In WHB DESCARTÁVEIS. Embalagem isopor retangular.
Disponível em: https://www.loja.whbdescartaveis.com/embalagem-isopor-retangular-hf101. Acesso
em: 21 set. 2024.
28 FIGUEIREDO, Erik. Custos são um desafio para o setor de reciclagem no Brasil. Poder 360, 28 nov.
2022. Disponível em: https://www.poder360.com.br/opiniao/custos-sao-um-desafio-para-o-setor-
de-reciclagem-no-brasil/. Acesso em: 21 set. 2024.
29 IFOOD. Você já viu as novas embalagens sustentáveis do iFood? iFood Institucional, 26 maio 2023.
Disponível em: https://institucional.ifood.com.br/restaurantes/novas-embalagens-sustentaveis-do-
ifood/. Acesso em: 21 set. 2024.
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hambúrguer, o papel em que ele é embalado e a recipiente para batata frita, feito
de papel biodegradável. De acordo com as informações da plataforma, o papel, em
condições favoráveis de umidade e temperatura, se decomporia em 180 dias. Esta
nova iniciativa se mostra incipiente para o tamanho da empresa que atua em mais
de 1.700 cidades30, informando que seriam distribuídas as embalagens para apenas
22 restaurantes em apenas 12 cidades do país. Novamente, após o final da ação, as
embalagens estariam disponíveis na iFood Shop, a cargo e ônus dos restaurantes
parceiros, apresentando estas medidas como parte da nova política da empresa sem
implementar formas de acesso e obtenção a embalagens biodegradáveis de forma
econômica.
Ao fim, a conta gerada pela meta do iFood de substituição por embalagens
biodegradáveis é paga pelos fornecedores, pequenos negócios e estabelecimentos
que fazem uso da plataforma. São "soluções" que transferem as responsabilidades de
sustentabilidade para os seus “parceiros”, os restaurantes que devem arcar com os
custos, e as pessoas que entregam, que potencialmente podem ser prejudicados com
embalagens menos seguras, ocasionando em prejuízos, considerando que a iFood
pode punir seus entregadores em caso de dano ao pedido.
Estes ônus, conectados à cadeia de fornecimento (restaurantes) e à cadeia de
entrega (entregadores da iFood), se tornam os reais responsáveis por lidar com as
exigências dos consumidores e acionistas, que desembolsam dinheiro para
disponibilizar seus serviços na plataforma, arcam com os gastos de acidentes,
atendem as demandas dos consumidores e investidores que acreditam estar
engajando com uma empresa “verde”.
3.2 Metas Net Zero
A segunda meta como política de sustentabilidade da iFood é a de neutralizar
a sua pegada de carbono (ou emissões de carbono). Para alcançar este objetivo, a
30 IFOOD. Quem Somos - Nós entregamos mais do que pedidos. Nosso propósito é alimentar o futuro.
iFood Institucional. Disponível em: https://institucional.ifood.com.br/sobre/quem-somos/. Acesso
em: 21 set. 2024.
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empresa implanta ações para compensar a emissão de gás carbono (CO2) nas
entregas, alegando que os recursos usados são investidos em projetos de
preservação, regeneração do meio ambiente e de geração de energia renovável31.
A empresa sustenta que possui métricas de volume de gases poluentes,
todavia, as métricas relacionadas a emissões de gases de efeito estufa são aspectos
que cada vez mais vêm sendo manipulados pelas grandes corporações para as
práticas de greenwashing32. Esses indicadores são inseridos em um contexto
corporativo pela mídia e pelo marketing destas empresas como uma espécie de
“certificação de boas práticas”.
Em seu Relatório de Sustentabilidade 2022/2023, a empresa afirma que sua
metodologia de cálculo está seguindo o padrão do GHG Protocol e com o auxílio de
consultoria especializada nesse tipo de metodologia, e que teria três escopos de
emissões. O primeiro e o segundo são as atividades dos escritórios e das dark stores,
respectivamente, e apenas o terceiro faz referência à real atividade da empresa: as
entregas feitas a partir da plataforma33.
Na tabela contida no referido relatório, as emissões são informadas com
valores não discriminados de forma acessível para que o público possa verificar a
veracidade34. Podemos, ainda, levantar questionamento do uso da metodologia GHG
Protocol. Entre as críticas a este método, encontramos: (i) dupla contagem, (ii) falta
de transparência, (iii) estimativas imprecisas, (iv) limitações na definição de
fronteiras organizacionais e (v) falta de orientação para auditoria35. Isso pode levar
31 iFood. Embalagens sustentáveis. Ifood institucional, 26 abr. 2023. Disponível em:
https://institucional.ifood.com.br/sustentabilidade/embalagens-sustentaveis/. Acesso em: 26 set.
2024.
32 BENJAMIN, Lisa et al. Climate-Washing Litigation: Legal Liability for Misleading Climate
Communications. Policy Briefing, The Climate Social Science Network. January 2022, p. 4. Disponível
em: https://ora.ox.ac.uk/objects/uuid:59e6d33f-bd8a-4375-9268-730a845e8aae/files/sn870zs466.
Acesso em: 20 set. 2024.
33 IFOOD. Relatório de Sustentabilidade 2022/2023, pg. 94. Disponível em:
https://institucional.ifood.com.br/wp-content/uploads/2024/02/iFood_FY23_Final-2.pdf. Acesso
em: 8 nov. 2024.
34 IFOOD. Relatório de Sustentabilidade 2022/2023, pg. 98. Disponível em:
https://institucional.ifood.com.br/wp-content/uploads/2024/02/iFood_FY23_Final-2.pdf. Acesso
em: 8 nov. 2024.
35 RAJGOPAL, Shivaram. What Are The Limitations Of The GHG Protocol?. Forbes, 8 jul. 2022.
Disponível em: https://www.forbes.com/sites/shivaramrajgopal/2022/07/08/what-are-the-
limitations-of-the-ghg-protocol/. Acesso em: 8 nov. 2024.
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a resultados incomparáveis e imprecisos, mesmo que o método utilizado
supostamente incentive a transparência como um dos seus princípios36. Aqui há
margem tanto para as críticas acima, quanto para a coleta seletiva de dados, pois
faltam mecanismos eficazes para monitoração desses relatórios. Por esta razão, as
organizações optam pela abordagem que apresenta os resultados mais vantajosos37.
O que encontramos no documento disponibilizado é uma persistente falta de
transparência nos cálculos, o que abre espaço para questionamentos acerca dos
próprios dados apresentados neste relatório. Assim, o uso destas metodologias que
padecem de transparência e precisão fazem parte de estratégias adotadas por
empresa para criar uma imagem de responsabilidade e sustentabilidade ambiental
para o mercado e seus consumidores.
Dentre as práticas de greenwashing associadas ao clima, alegações que podem
incluir declarações de que um produto ou serviço é “neutro em carbono”, “carbono
zero”, “totalmente compensado” ou “livre de desmatamento38, apresentadas como
formas de identificar que aquela empresa assume uma responsabilidade social com
a compensação de emissões e auxilia a evitar os impactos catastróficos das mudanças
climáticas nos ecossistemas, economias e sociedades.
No entanto, a aposta na compensação de emissões pela compra de créditos
de carbono não significa um produto ou serviço em si mais “limpo” ou sem emissões
de gases de efeito estufa. As empresas simplesmente calculam as emissões relativas
ao item comercializado e compram créditos equivalentes para compen-las. A
estratégia parece priorizar o apelo de marketing verde sobre uma efetiva redução
de emissões, sem necessariamente propor mudanças no processo produtivo.
Neste sentido, Ingo Sarlet afirma que:
36 WORLD RESOURCES INSTITUTE (WRI); WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT
(WBCSD). The Greenhouse Gas Protocol: a corporate accounting and reporting standard. Revised
Edition. 2011, pg. 7. Disponível em: https://ghgprotocol.org/sites/default/files/standards/ghg-
protocol-revised.pdf. Acesso em: 8 nov. 2024.
37 BOWLER, Laura; REDBURN, Melody. The future of the GHG Protocol: how the standards are evolving.
Ramboll, 6 jun. 2024. Disponível em: https://www.ramboll.com/en-us/insights/decarbonise-for-net-
zero/ghg-protocol-how-the-standards-are-evolving. Acesso em: 8 nov. 2024.
38 CHAN, Tiffanie et al. Corruption and integrity risks in climate solutions: an emerging global
challenge. LSE Policy Report, v. 10, p. 19, 2023. Disponível em:
https://www.lse.ac.uk/granthaminstitute/wp-content/uploads/2023/10/Corruption-and-integrity-
risks-in-climate-solutions.pdf. Acesso em: 20 set. 2024.
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[...] a redução e a compensação das emissões de CO2 não representam
medidas equivalentes para alcançar a neutralidade climática, visto que a
redução tem prioridade em relação à compensação na perspectiva da
proteção climática39.
Um relatório da Carbon Market Watch e da New Climate Institute indica que
a compensação é uma “opção dominante e relativamente fácil para as empresas
eliminarem grandes partes de seus impactos climáticos gerais a baixo custo e com
um atraente valor de marketing de curto prazo40. Mas, segundo o relatório, há um
grande obstáculo para a credibilidade e a eficácia dessas estratégias na mitigação
real dos impactos climáticos. Isso porque:
[a] prática de reivindicar a compensação de emissões é afetada por
controvérsias e contestações devido a incertezas significativas sobre o
impacto real do uso de créditos de compensação, bem como sobre a
adequação das remoções de dióxido de carbono para compensar as
emissões41.
Assim, além de confundir o consumidor, a aposta na compensação de emissões
pela compra de créditos de carbono também pode ser questionada quanto a sua real
efetividade e impactos dos projetos implementados para esse fim. A título de
exemplo de como essas compensações podem ser utilizadas de -fé, trazemos o
caso da Verra, maior certificadora de créditos de carbono do mundo, enfrenta
questionamentos no Brasil e no mundo. Segundo o The Guardian, estudos
denunciaram que mais de 90% dos créditos de compensação florestal de projetos
certificados por ela podem ser considerados “créditos fantasmas” que não
39 SARLET, Ingo Wolfgang. Proteção climática, limites da publicidade e concorrência desleal.
Consultor Jurídico, 8 jul. 2024. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2024-jul-08/protecao-
climatica-limites-da-publicidade-e-concorrencia-desleal/. Acesso em: 22 set. 2024.
40 DAY, Thomas et al. Corporate Climate Responsibility Monitor 2023: Assessing the Transparency
and Integrity of Companies. Emission Reduction and Net-Zero Targets, Cologne: New Climate
Institute, February 2022, Disponível em: https://carbonmarketwatch.org/wp-
content/uploads/2023/02/CorporateClimateResponsibilityMonitor2023.pdf Acesso em: 20 set. 2024.
41 DAY, Thomas et al. Corporate Climate Responsibility Monitor 2023: Assessing the Transparency
and Integrity of Companies. Emission Reduction and Net-Zero Targets, Cologne: New Climate
Institute, February 2022, p. 51. Disponível em: https://carbonmarketwatch.org/wp-
content/uploads/2023/02/CorporateClimateResponsibilityMonitor2023.pdf Acesso em: 20 set. 2024.
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representam reduções genuínas nas emissões42. Também foi noticiado pelo The
Guardian, em 2024, que a Finite Carbon, uma das maiores empresas estadunidenses
de compensação de carbono, com mais de um quarto do mercado, vendia créditos
para preservar áreas que não estavam em risco ou em baixo risco de acordo com
análises feitas pela agência Renoster e a Carbon Plan43.
Já no Brasil, a Defensoria Pública do Pará entrou com um conjunto de ações
civis públicas questionando quatro projetos de REDD+ certificados pela Verra,
alegando uso indevido de terras públicas, de assentamentos de comunidades
extrativistas e documentos inválidos44. Os projetos foram acusados de “grilagem
verde” e uso inadequado de áreas de floresta pública, comprometendo a
legitimidade dos créditos gerados. Igualmente, na ação civil pública proposta pelas
Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Mapuá (AMOREMA) e Associação dos
Moradores da Reserva Extrativista Terra Grande-Pracuúba (AMORETGRAP), são
alegadas violações relacionadas a créditos emitidos pela certificadora em Reservas
Extrativistas45.
Soma-se às inúmeras críticas a denúncia específica em uma investigação
trabalhista de projetos que a iFood foi parte por realizar compensações de créditos
de carbono em uma área com trabalho escravo no Brasil. Quer dizer, a iFood
contratou um projeto que operava no bioma amazônico para compensar as emissões
de atividades cotidianas. Porém, a área em questão abrigava atividades com uso de
42 GREENFIELD, Patrick. Revealed: more than 90% of rainforest carbon offsets by biggest certifier are
worthless, analysis shows. The Guardian, 18 jan. 2023, Disponível em:
https://www.theguardian.com/environment/2023/jan/18/revealed-forest-carbon-offsets-biggest-
provider-worthless-verra-aoe. Acesso em: 20 set. 2024.
43 BARRATT, L.; GREEN, M. BP-owned company is selling carbon credits on trees that aren’t in danger,
analysis finds. The Guardian, 11 jul. 2024. Disponível em:
https://www.theguardian.com/environment/article/2024/jul/11/finite-carbon-forest-offsets-
analysis. Acesso em: 21 de set. de 2024.
44 São as ACPs de nº 0806582-68.2023.8.14.0015; 0806631-12.2023.8.14.0015; 0806464-
92.2023.8.14.0015; e 0806505-59.2023.8.14.0015. Para mais informações, consultar as páginas dos
casos na Plataforma de Litigância Climática no Brasil, disponível em:
https://litigancia.biobd.inf.puc-rio.br/visualizacao_caso/368/0/. Acesso em: 20 set. 2024.
45 É a ACP de nº 1045416-11.2021.4.01.3900. Para obter mais informações, consultar a página do caso
na Plataforma de Litigância Climática no Brasil, disponível em: https://litigancia.biobd.inf.puc-
rio.br/visualizacao_caso/342/0/. Acesso em: 20 set. 2024.
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trabalho escravo46. Denúncias como essa demonstram como projetos de
greenwashing vão além de assumir metas arbitrárias, não possuindo transparência
em seus relatórios, além de ativamente serem responsáveis por abusos.
Neste tema, a expansão da colonialidade se desdobra no próprio mercado de
crédito de carbono, de modo que as estruturas de poder neoliberais procuram
implementar políticas ambientais de sustentabilidade nos países do Sul Global que,
em verdade, operam em prol do capital47.
3.3 iFood Pedal: uso de modais não poluentes
A terceira política de sustentabilidade no arcabouço das metas da iFood é o
projeto iFood Pedal e o uso de modais não poluentes (bicicletas e motos elétricas)
como forma de compromisso com o meio ambiente e a descarbonização das suas
operações, de modo a transformar 50% de seus meios de entrega em modais não
poluentes até o ano de 2025.
O programa iFood Pedal consiste em um serviço que permite as entregadoras
e entregadores alugarem uma bicicleta tradicional ou elétrica para efetuar as
entregas48. Para alugar a bicicleta, é necessário efetuar o pagamento de uma taxa
semanal para a iFood para ter acesso ao sistema e a uma área de repouso, e um valor
adicional para a retirada da bicicleta em uma base de coleta específica na cidade,
seja ela tradicional, seja elétrica49.
46 HARARI, Isabel; DALLABRIDA, Poliana. Uber e Audi usaram créditos de carbono de área com trabalho
escravo. Repórter Brasil, 19 fev. 2024. Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/2024/02/uber-
audi-creditos-de-carbono-trabalho-escravo/. Acesso em: 7 jun. 2024.
47 SILVA, Hanieri Alves da Silva; VIEIRA, Ivinna Kariny da Costa. O crédito de carbono e o novo
colonialismo na américa latina: paradigmas da lógica capitalista e do desenvolvimento sustentável.
Meio Ambiente (Brasil), [S. l.], v.6, n. 1, p. 08-16. Disponível em:
https://meioambientebrasil.com.br/index.php/MABRA/article/view/451#:~:text=da%20Costa%20Vie
ira-,Resumo,carbono%20em%20prol%20do%20capital. Acesso em: 5 jun. 2024.
48 IFOOD. Delivery de Vantagens oferece bike compartilhada no iFood Pedal. Ifood Institucional, 13
abr. 2023. Disponível em: https://www.news.ifood.com.br/delivery-de-vantagens-oferece-bike-
compartilhada-no-ifood-pedal/. Acesso em: 5 jun. 2024.
49 IFOOD. Delivery de Vantagens oferece bike compartilhada no iFood Pedal. Ifood Institucional, 13
abr. 2023. Disponível em: https://www.news.ifood.com.br/delivery-de-vantagens-oferece-bike-
compartilhada-no-ifood-pedal/. Acesso em: 21 de jun. de 2024.
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OLIVEIRA, Marcos A. C. de; PINHEIRO, Maísa S.; GARRIDO, Carolina de F.; MAIA, Isabel N.. Greenwashing: a lógica
colonial nas pautas de sustentabilidade da iFood. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas,
v. 7, p. 1-31, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.255.
Quando o projeto foi criado, em 2020, existia apenas uma base de coleta na
cidade do Rio de Janeiro, localizada no bairro Catete, o que implicava que os
entregadores que atuavam na cidade do Rio de Janeiro, independentemente de onde
se situa sua moradia, deveriam se dirigir ao mesmo lugar para conseguir utilizar os
serviços do programa iFood Pedal.
Portanto, além dos custos de retirada, acesso ao sistema e área de repouso,
para conseguir exercer o seu trabalho, a/o entregador/a precisa arcar, ainda, com
o valor do deslocamento de ida e de volta para casa desde o lugar onde se situa a
base de coleta da bicicleta na cidade.
Atualmente, existe alguma diversidade de pontos de coleta da iFood Pedal.
No entanto, mesmo com a expansão do programa, os mesmos problemas
permanecem: (i) o entregador ainda deve arcar com seu deslocamento até um ponto
de coleta e de retorno para casa e (ii) as emissões de carbono desse deslocamento
não eram consideradas pela empresa50.
Para ampliar ainda mais o projeto, a iFood fechou uma parceria com a
empresa Tem Bici, adotando uma tabela de preços para aderir à iniciativa,
exemplificada abaixo:
Figura 1 - tabela de preços.
Fonte: iFood51
50 MACHADO, Leandro. Dormir na rua e pedalar 12 horas por dia: a rotina dos entregadores de
aplicativos. BBC News Brasil, São Paulo, 22 maio 2019. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48304340. Acesso em: 21 set. 2024.
51 IFOOD. Conheça nossos planos. Ifood Tembici. Disponível em: https://ifood.tembici.com.br/.
Acesso em: 21 set. 2024.
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OLIVEIRA, Marcos A. C. de; PINHEIRO, Maísa S.; GARRIDO, Carolina de F.; MAIA, Isabel N.. Greenwashing: a lógica
colonial nas pautas de sustentabilidade da iFood. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas,
v. 7, p. 1-31, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.255.
Neste ano, além do preço semanal e da cobrança por atraso, cada posto de
retirada de bicicleta tem uma cobrança diferente por estação52, podendo custar a
R$8,20 (oito reais e vinte centavos) para retirar uma bicicleta elétrica em horário de
pico na estação "77 - Cine Leblon", localizada na Rua Fadel Fadel, no bairro mais rico
cidade. Os preços dinâmicos variam de acordo com a localização da estação, horário,
tipo de plano e dia da semana, informando se há cobrança adicional em retirar a
bicicleta naquele ponto.
Já na cidade de São Paulo, não a possibilidade de escolha de plano, estando
disponível apenas o plano completo, enquanto o Rio de Janeiro oferece dois planos,
como visto na imagem acima.
Em entrevista para o website Brasil de Fato, um entregador que sofreu
violência por um agente patrimonial de um shopping de São Paulo dentro do ponto
de descanso e acesso à bicicleta, afirmou que o valor desembolsado pelos
entregadores para uso do serviço nunca é apenas o valor cobrado semanalmente.
Segundo a fonte, entregadoras/es pagam o plano de R$ 32,00 (trinta e dois reais) por
semana, mas, ao olhar novamente a tabela acima, é possível verificar tarifas sendo
cobradas por cada retirada da bicicleta, além de um extra por atraso na sua
devolução, podendo chegar a até R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) semanalmente,
ou mais, totalizando um custo de, aproximadamente, R$ 200,00 (duzentos reais)
mensais que ficam a cargo do entregador53.
Assim, no final de cada mês, entregadoras/es precisam desembolsar dinheiro
próprio para conseguirem trabalhar em rotas mais curtas, perto de restaurantes no
centro da cidade e que tenham rotas beneficiadas, tanto em distância, quanto em
valor pago por entrega. Se o/a entregador/a, ao final do mês, consegue fazer
entregas que equivalham ao salário-nimo vigente em 2024, de R$1.412,00 (mil
52 A tabela de preços para a cidade do Rio de Janeiro está disponível em: https://valiant-tithonia-
d0d.notion.site/20c8f22cdf3a4398b2f04478f938cd9e?v=8bed3965dcf44a299ce392a38399566a. Acesso
em: 21 set. 2024.
53 MONCAU. Gabriela. Entregador é agredido por segurança do iFood Pedal em SP: "achei que ia ficar
inconsciente". Brasil de Fato, São Paulo, 13 dez. 2022. Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2022/12/13/entregador-e-agredido-por-seguranca-do-ifood-
pedal-em-sp-achei-que-ia-ficar-inconsciente. Acesso em: 5 jun. 2024.
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v. 7, p. 1-31, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.255.
quatrocentos e doze reais), este precisará desembolsar algo em torno de R$200,00
(duzentos reais) por mês para estar de acordo com as metas ambientais da empresa.
Entregadoras e entregadoras se tornam responsáveis por bancar essa meta que
a empresa assumiu, forçando-os a continuar com seus próprios meios. Esta
mobilização está em perfeita sintonia com a lógica colonial, naturalizando as
relações de dominação e operando a partir do controle do trabalho, sob a
justificativa da sustentabilidade.
A delegação das suas metas ambientais e climáticas pela iFood é identificada
em todas as frentes nas quais promete atuar. Além da problemática dos valores, a
empresa não leva em conta as emissões de carbono consequentes do trabalho dos
entregadores, como aquelas realizadas durante o trajeto entre os pontos de coleta
de bicicleta e o retorno para suas residências. Nesse sentido, a contratação just-in-
time é contraditória com esses supostos objetivos sustentáveis.
Em reportagem da BBC do ano de 2019, foi constatado que a maioria das
entregadoras e dos entregadores vivem na periferia da cidade de São Paulo ou na
Grande São Paulo, enquanto os postos de entrega com entregas de valores mais altos
se concentram em áreas de alta renda da cidade54.
Então, quando se fala da diminuição de emissões de gás carbônico, questiona-
se se o programa possui efeitos concretos sustentáveis significativos, visto que
promove um aumento de deslocamento via transportes poluentes para possibilitar a
coleta de bicicletas pelos entregadores. Mais do que isso, apesar desses modais não
consumirem combustível para funcionar, dependem completamente do esforço físico
e vital dos entregadores e entregadoras. A proposta da iFood de sustentabilidade
ambiental utiliza como fonte de lucro o desgaste e abuso dos corpos das entregadoras
e entregadores, que são predominantes jovens negras/os55.
54 MACHADO, Leandro. Dormir na rua e pedalar 12 horas por dia: a rotina dos entregadores de
aplicativos. BBC News Brasil, São Paulo, 22 maio 2019. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48304340. Acesso em: 5 jun. 2024.
55 ABÍLIO, Ludmila Costhek. Uberização e juventude periférica: desigualdades, autogerenciamento e
novas formas de controle do trabalho. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, v. 39, n. 3, p. 579-597,
dez/2020, p. 587.
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3.4 Compra de veículos: incentivo ao endividamento
A quarta e última política, mascarada como de sustentabilidade, é outra
frente do programa de modais não poluentes: o incentivo para que os entregadores
comprem as próprias motocicletas elétricas, tornando, assim, as entregas ainda mais
"verdes".
A iniciativa foi idealizada em parceria com a startup VOLTZ e o Banco BV, e
oferece bicicletas elétricas com financiamento diferenciado para entregadoras/es
que desejem investir no modal não poluente. Em suma, a parceria possibilitaria a
aquisição do modal não poluente por R$ 10.000,00 (dez mil reais), o que daria um
desconto de R$ 2.000,00 (dois mil reais) do valor original para os primeiros trezentos
colaboradores a adquirir a bicicleta elétrica. Esse subsídio do valor original variaria
de acordo com a aprovação do crédito e usuário, que deve ser um entregador da
plataforma iFood56.
Esse movimento traz à tona mais uma “terceirização” das metas assumidas
pelo aplicativo e mais uma responsabilidade transferida para seus colaboradores.
Será de responsabilidade do entregador adquirir o modal não poluente elétrico,
pagar suas parcelas, e, ainda por cima, pagar o plano para troca de baterias que, no
documento do próprio banco BV, custará R$3 19,00 (trezentos e dezenove reais)
mensais para entregadoras/es que não quiserem limitações de trocas ou
quilometragem rodada57.
Vale ressaltar que aquelas pessoas que adquiriram motos da VOLTZ através do
programa da iFood também protestaram na frente da loja da primeira empresa no
dia 29 de abril de 2023, alegando que as baterias das motos paravam de funcionar
rapidamente, que as áreas de recarga de bateria da empresa foram abandonadas e
56 BUTCHER, Isabel. iFood vende moto elétrica para seus entregadores. Mobile Time, Rio de Janeiro,
31 maio 2022. Disponível em: https://www.mobiletime.com.br/noticias/31/05/2022/ifood-vende-
moto-eletrica-para-seus-entregadores. Acesso em: 5 jun. 2024.
57 BANCO BV. Parceria entre BV e iFood abre linha de financiamento da primeira moto elétrica para
entregadores do país. Banco BV, São Paulo, 31 maio 2022. Disponível em:
https://www.bv.com.br/releases/anexos/Parceria-entre-BV-e-iFood-abre-linha-de-financiamento-
da-primeira-moto-eletrica-para-entregadores-do-pais.pdf. Acesso em: 5 jun. 2024.
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colonial nas pautas de sustentabilidade da iFood. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas,
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que não existia qualquer suporte técnico. Além disso, partes de plástico das motos
parecem quebrar com alguma facilidade, aumentando as chances de acidentes58.
Estes pagamentos realizados para que a iFood possa cumprir as próprias metas
de sustentabilidade são parte de um problema maior da plataforma, que é,
justamente, a transferência dos custos e riscos para as entregadoras e entregadores.
Portanto, as metas ambientais de ESG da empresa não são efetivamente
cumpridas pela empresa, operando através de uma maquiagem e repasse de
responsabilidade ambiental, cuja transferência de ônus que geram riscos para a
saúde física e financeira de entregadoras/es, tem como objetivo o lucro adquirido
com a exibição de um selo “verde”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisadas as ações de sustentabilidade da iFood, fica evidente que não se
trata de reais políticas com impactos positivos para o meio ambiente. É importante
ressaltar como todos os projetos anunciados pela iFood operam de forma superficial
e não enfrentam o fato que o real serviço da iFood (logística de entregas) causa
impactos sociais e ambientais. Mesmo que a empresa comprovasse que seus objetivos
de substituição de embalagens e de modais não poluentes” fossem concretizados (e
não são), ainda resta que todo o modelo de negócios da empresa depende de uma
cultura que incentiva cada vez mais o uso de fretes na vida cotidiana.
Nada é mais emblemático disso do que a declaração do antigo CEO da
empresa, Fabricio Bloisi, que afirmou que em cinco ou dez anos ninguém mais vai
cozinhar em casa e que pedir comida se tornaria mais barato que comprar os
ingredientes. Hiperbólico? Talvez. Mas certamente revela como os objetivos da
empresa de perpétua expansão não são compatíveis com qualquer noção de
sustentabilidade.
58 PROTESTO loja voltz são paulo moto elétrica ifood. Canal Testador Moto elétrica, 1 vídeo
(1min). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=t0E1by57JEg&ab_channel=TestadorMotoel%C3%A9trica. Acesso
em: 5 jun. 2024.
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v. 7, p. 1-31, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.255.
Todavia, a maior característica das ações de greenwashing da iFood são
reveladas sob uma lente do trabalho. A análise dos casos permitiu identificar que a
empresa não contribui materialmente para nenhuma das ações, ou seja, a
transferência total da responsabilidade é a principal marca de sustentabilidade da
iFood. O intuito é simples: receber todos os benefícios reputacionais, sem ter que
arcar com qualquer um dos custos ou riscos.
Esse resultado não é surpreendente. Considerando que a iFood opera com um
modelo de negócio de plataforma “enxuta” (lean), precisamos ressaltar que sua
atuação será pautada na redução de custos e, principalmente, se afastando ao
máximo das obrigações trabalhistas. Nesse sentido, a transferência total da
responsabilidade para seus “parceiros”.
A noção da substituição de combustíveis poluentes pelo dispêndio de energia
vital de trabalhadores e trabalhadoras talvez seja um dos pontos mais questionáveis
e preocupantes desse processo. Qualquer trabalho é desgastante ao corpo, mas essa
característica é ainda mais evidente no caso de entregadores e entregadoras, que
precisam cumprir jornadas longas e exaustivas para compensar o fato da
remuneração ser absolutamente insuficiente. A concentração de restaurantes e
pontos de acesso a bicicletas ser concentrado longe das periferias exige que esses
entregadores e entregadoras trabalhem longe de suas casas, muitas vezes dormindo
nas ruas.
Considerando como essa categoria de trabalhadores é marcadamente jovem,
masculina, negra e periférica, somos forçados a questionar como a substituição por
modais “não poluentes”, no caso das entregas da iFood, se baseia na concepção que
esses corpos estão a disposição para uso e descarte. Em uma perfeita representação
do capitalismo colonial, o corpo negro é utilizado como energia renovável.
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Marcos Aragão Couto de Oliveira
Doutor em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-Rio). Lattes: http://lattes.cnpq.br/0936127575731521 ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-5180-0524 E-mail: maragaoc@gmail.com.
Maísa Sampietro Pinheiro
Doutoranda em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Mestre em Políticas Públicas em Direitos Humanos pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8660917392223431 ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2590-9993 E-
mail: maisaspinheiro@hotmail.com.
Carolina de Figueiredo Garrido
Mestre em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-Rio). Membra do Grupo de Pesquisa em Direito, Ambiente e Justiça no
Antropoceno (JUMA), do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (NIMA) da PUC-Rio. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7448418345364018 ORCID: https://orcid.org/0009-0009-0493-6192 E-
mail: caroldfgarrido@gmail.com.
Isabel Nolding Maia
Mestre em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-Rio). Membra do Grupo de estudos do Núcleo Interdisciplina de Meio
Ambiente (NIMA-Jur) Lattes: http://lattes.cnpq.br/3461387141566250 ORCID:
https://orcid.org/0009-0006-0377-1312 E-mail: isabelnoldingm@gmail.com.