Trabalho e viração em empresas-aplicativo: um panorama  
da uberização na cidade de São Paulo durante a pandemia  
Work and gigwork on app-companies: an  
overview of uberisation in the city of  
São Paulo during the pandemic  
Trabajo y gigwork en empresas de  
aplicaciones: una visión general de la  
uberización en la ciudad de São Paulo  
durante la pandemia  
Flavia Uchôa de Oliveira  
Universidade Federal Fluminense (UFF)  
Shailen Nandy  
Luis Renato Vedovato  
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)  
Ana Elisa Assis  
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)  
RESUMO  
Este artigo tem por objetivos contribuir com a produção de dados sobre a  
uberização e enfatizar a gestão da desinformação como parte da uberização.  
Por isso, em termos temáticos e teóricos, a noção de uberização serve à  
análise aqui proposta. A coleta de dados, realizada em 2021 durante  
momentos críticos da pandemia, é parte do Projeto Interinstitucional  
“Pobreza Multidimensional no Brasil”. O instrumento aplicado continha  
questões sobre a situação de trabalho, de renda, de condições de vida e  
sobre os impactos da pandemia na vida dos participantes. O recorte proposto  
foca nos participantes que, à época, trabalhavam ou se viravam em  
empresas-aplicativo. Os resultados sugerem que a uberização pode ser  
considerada como um dos vetores de pobreza para a maioria do grupo  
estudado. Os dados reforçam a compreensão da uberização como uma  
tendência generalizante para o mercado de trabalho, mas que se acentua  
como trabalho precário e amador para homens negros jovens e periféricos.  
PALAVRAS-CHAVE: abordagem consensual uberização; gestão da  
desinformação; pobreza multidimensional; uberização.  
Recebido em: 26/04/2023  
Aprovado em: 04/08/2023  
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Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano  
Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região  
ABSTRACT  
This article aims to contribute to the production of data on uberisation and  
emphasize the management of misinformation as part of uberization. In this  
sense, in thematic and theoretical terms, the notion of uberisation is useful  
to the analysis proposed here. Data collection, carried out in 2021 during  
critical moments of the pandemic, is part of the Interinstitutional Project  
“Multidimensional Poverty in Brazil”. The survey contained questions about  
the work situation, income, living conditions and the impacts of the  
pandemic on the lives of the participants. Focus will be given to those  
participants who worked, at the time, full time or part time at app-  
companies. The results suggest that uberisation could be considered one of  
the poverty vectors for the majority of the studied group. Data reinforce the  
understanding of uberisation as a general trend for the labor market, but  
which is accentuated as precarious and amateur work for young and  
peripheral black men.  
KEYWORDS:  
consensual  
approach;  
misinformation  
management;  
multidimensional poverty; uberisation  
RESUMEN  
Este artículo tiene como objetivo contribuir a la producción de datos sobre  
la uberización y enfatizar la gestión de la desinformación como parte de la  
uberización. En este sentido, en términos temáticos y teóricos, la noción de  
uberización es útil para el análisis aquí propuesto. La recolección de datos,  
realizada en 2021 durante momentos críticos de la pandemia, forma parte  
del Proyecto Interinstitucional “Pobreza Multidimensional en Brasil”. La  
encuesta contenía preguntas sobre la situación laboral, los ingresos, las  
condiciones de vida y los impactos de la pandemia en la vida de los  
participantes. Se prestará atención a aquellos participantes que trabajaron,  
en ese momento, a tiempo completo o parcial en empresas de aplicaciones.  
Los resultados sugieren que la uberización podría ser considerada uno de los  
vectores de pobreza para la mayoría del grupo estudiado. Los datos  
refuerzan la comprensión de la uberización como tendencia general del  
mercado laboral, pero que se acentúa como trabajo precario y amateur para  
hombres negros jóvenes y periféricos.  
PALABRAS CLAVE: enfoque consensuado; gestión de la desinformación;  
pobreza multidimensional; uberización.  
INTRODUÇÃO  
Este artigo tem por objetivos contribuir com a produção de dados sobre a  
uberização na capital paulista e enfatizar a gestão da desinformação como parte da  
uberização. A coleta e o recorte dos dados focam nas trabalhadoras e nos  
trabalhadores que nos meses de julho e agosto de 2021, ainda durante momentos  
críticos da crise sanitária, tinham como ocupação única ou viração o trabalho nas  
OLIVEIRA, Flávia Uchôa de; NANDY, Shailen; VEDOVATO, Luis Renato; ASSIS, Ana Elisa. Trabalho e viração em  
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Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, v.6, p. 1-40, 2023. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v6.153.  
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empresas que funcionam por meio de plataformas digitais, nomeadas aqui como  
empresas-aplicativo. Nesse sentido, focamos em trabalhadores que tinham nas  
empresas-aplicativo sua atividade e renda principais ou tinham nessa forma de  
trabalho uma atividade extra para complementar sua renda. Importa indicar que os  
dados apresentados são frutos da quarta etapa do projeto interinstitucional Pobreza  
Multidimensional em São Paulo.  
Em termos temáticos e teóricos, a noção de uberização serve à análise aqui  
proposta. Justificamos a elaboração deste artigo pela relevância do tema na  
atualidade e pelo apagão de dados que tem sido promovido deliberadamente pelas  
empresas-aplicativo. Por esse segundo motivo, dedicamos uma breve discussão  
temática e teórica para enfatizar a gestão da desinformação na uberização, com a  
sustentação em exemplos recentes no Brasil e no mundo. Compreendemos que a  
gestão da desinformação é parte crucial do processo de uberização e constitui um  
dos desafios para os quais parte das ciências do trabalho tem se empenhado em  
denunciar e superar. Em vista disso, esta pesquisa é um esforço de produção e análise  
de dados sobre o processo de uberização para contribuir com a promoção de ações,  
formações, negociações e políticas públicas voltadas ao trabalho, ao emprego e à  
renda.  
Nas páginas a seguir, o texto está organizado da seguinte maneira: em  
primeiro lugar, exploramos a definição de uberização alicerçada nas discussões mais  
recentes realizadas pelo direito, pela sociologia e antropologia do trabalho, e pela  
psicologia social do trabalho. Enfatizamos, a gestão da desinformação, característica  
desse processo. Em seguida, passamos aos fundamentos metodológicos do projeto  
Pobreza Multidimensional no Brasil e os recortes dos dados aqui apresentados.  
Depois, passamos à apresentação dos resultados e às análises e discussões  
conduzidas. Por fim, tecemos breve comentário à guisa de conclusão, indicando  
limitações e potencialidades de nosso estudo.  
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1.Uberização  
Nos últimos sete anos, a palavra uberização tornou-se um polo de atração para  
as ciências que estudam o trabalho. Essa afirmação está confirmada na busca pelo  
termo no Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de  
Pessoal de Nível Superior (Capes), base que oferece o panorama da produção  
científica no Brasil.  
Em janeiro de 2023, o descritor uberização retorna 94 resultados para a  
busca. O termo aparece em trabalhos concluídos entre 2017 e 2022. Os anos de 2020  
e 2021 concentram 78 trabalhos concluídos. As Ciências Sociais Aplicadas lideram os  
resultados e a área do Direito aparece em primeiro lugar absoluto com quase três  
dezenas de teses e dissertações sobre o tema. A Sociologia e a Administração seguem  
em segundo e terceiro lugares, respectivamente. As Instituições de Ensino Superior  
do sul e do sudeste encabeçam esses estudos e a participação das outras regiões  
nessa temática se dá de maneira mais pulverizada. Essas informações apresentam o  
impacto da temática na produção científica brasileira e estão em consonância com  
a recente revisão de literatura na qual foi analisada a produção de artigos nacionais  
e internacionais, a partir dos Periódicos Capes1.  
A visão positiva e produtiva da uberização, encontrada em escritos de 20172,  
parece ser suplantada pela realidade do aprofundamento da precarização do  
trabalho. As justificativas midiáticas de negócios disruptivos a partir da tecnologia,  
e da parceria e do empreendedorismo como o futuro do trabalho, não resistem ao  
exame mais atento da organização de trabalho imposta pelas empresas-aplicativo3.  
Virgínia Fontes sintetiza a uberização, apresentando o fundamento desse processo:  
1 ELIAS, Maria Ligia Ganacim Granado Rodrigues et al. Uberização: um entendimento a partir de uma  
2 MÉDICI NETO, Mário Garrastazu. Motoristas parceiros do Uber: natureza da prestação de novas  
formas de trabalho trazidas pela economia colaborativa. 2017. 186 f. Dissertação (Mestrado em Direito  
do Trabalho) Faculdade de Direito, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.  
3 SOUZA, Ilan Fonseca de. Na pista com a Uber: uma etnografia. Revista Direito e Práxis, Ahead of  
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“descobrir uma forma de extrair mais-valor, através da utilização do trabalho  
humano”4 . O que implica em um controle técnico e tecnológico nunca antes visto  
do trabalhador. Do método para realizar suas atividades à remuneração, o  
trabalhador é subordinado ao gerenciamento algorítmico formulado pelas empresas-  
aplicativo5.  
Compreendemos a uberização como a atualização do gerenciamento  
capitalista do trabalho. O velho objetivo da espoliação e da expropriação é  
atualizado a partir das novidades das tecnologias digitais de informação e  
comunicação. Ao pensarmos a fundação do trabalho por meio da precariedade para  
a maioria da classe-que-vive-do-trabalho na América Latina, essa atualização  
gerencial ganha força e aderência. A polimorfia do trabalho neste nosso canto do  
mundo, sedimentou o investimento político nos corpos pela viração e tornou-se base  
para o empreendedorismo de si e, mais recentemente, para a uberização6.  
No Brasil, a cidadania frágil e regulada estabelecida ao longo do século XX,  
marcou os corpos não-brancos e periféricos que tiveram de se virar com o que  
pudessem fazer de bicos para responder à emergência da sobrevivência7. A  
confluência perversa entre um projeto democratizante e o receituário neoliberal8,  
promoveram, por exemplo, políticas públicas voltadas à economia solidária9; na  
4
5 ABÍLIO, Ludmila Costhek. Uberização: do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado.  
6
contemporaneo1/ . Acesso em: 01 set. 2023.  
8
2023.  
9 ANDRADA, C. F.; ESTEVES, E. G. Sonho, história, loucura? Economia Solidária: um movimento de  
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mesma medida em que promoveram o empreendedorismo nos termos da Pequenas  
Empresas, Grandes Negócios, via serviços paraestatais como o Serviço Brasileiro de  
Apoio às Micro e Pequenas Empresas10. Ofertaram a inclusão em uma proteção social  
frágil como na criação da figura jurídica do Microempreendedor Individual (MEI) para  
atividades historicamente fundadas na precariedade. O caso das trabalhadoras  
domésticas é exemplar da perversão dessa confluência: a aprovação da PEC das  
domésticas em 2013 é logo sucedida pela inclusão da categoria de diarista como  
MEI11.  
A ação política de trabalhadoras e trabalhadores acrescenta outra camada de  
tinta à compreensão do processo de uberização. Os movimentos de denúncia e  
resistência entre 2019 e 2020 podem ser compreendidos como as novas formas de  
resistência diante de novas formas de dominação12. A greve conhecida como Breque  
dos Apps e a regionalização do movimento intitulado Entregadores Antifascistas  
mostram a importância da ação política por fora e ao redor das instituições. Esses  
acontecimentos manifestam igualmente a dimensão das implicações psicossociais  
que envolvem esta nova forma de organização do trabalho. Ademais, o impacto  
dessas mobilizações acentua um aspecto da gestão crucial na atualidade: a gestão  
da desinformação. Sobre esse aspecto, dedicamos a seção a seguir.  
Alegre:  
ABRAPSO,  
2017.  
p. 169187.  
Disponível  
em:  
10 UCHÔA DE OLIVEIRA, Flávia Manuella. Somos todos empreendedores? A demanda empreendedora  
161211/es.php. Acesso em: 01 set. 2023.  
11 PROFISSIONAIS que prestam serviços domésticos podem ser MEI. SEBRAE, 31 jan. 2019. Disponível  
12  
Disponível  
em:  
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1.1 A gestão da desinformação é parte da uberização: opacidade e manipulação  
dos dados  
A falta de acesso a dados e a manipulação de informações por parte das  
empresas é um dos principais desafios para pesquisadores que se dedicam ao estudo  
do trabalho. Especialmente, para aquelas e aqueles dedicados ao estudo da  
uberização, a partir das empresas-aplicativo13. A expressão empresas-aplicativo,  
cunhada por Ludmila Costhek Abílio14, designa a “pouca materialidade, mas altíssima  
visibilidade” de tais empreendimentos. A expressão busca enfatizar que tais  
empresas surgem como plataformas, isto é, espaços digitais de troca entre  
consumidores e empreendedores de si mesmo, o que confere à empresa a  
desresponsabilização sobre os impactos de seus serviços. Não se trata de uma  
empresa com a materialidade de espaços físicos e rostos, mas de um ambiente virtual  
no qual o patrão é sujeito oculto. A Uber, por isso, não é apresentada como empresa  
de transporte individual, nem o Airbnb é apresentada como uma rede hoteleira; para  
ficar apenas nesses exemplos. Essas empresas são apresentadas como plataformas e  
não possuem frotas de carros ou espaços físicos para hospedagem.  
Trata-se de uma alteração nos termos que busca usar a marca de plataforma  
para encobrir o funcionamento empresarial e o vínculo empregatício. A marca  
fetichizada e a falta de transparência sobre o funcionamento dessas empresas  
aparecem justificadas por um lado pela concorrência, por aquilo que não pode ser  
compartilhado: uma suposta fórmula do sucesso, que é propriedade intelectual e  
que sustenta uma cultura do sigilo15; por outro lado, a falta de acesso aos dados do  
funcionamento dessas empresas é justificada de maneira menos racionalizada e mais  
ideológica: tais empresas parecem estar no campo daquilo que é indomável. Seriam  
espaços de liberdade em que o progresso é inevitável. O espaço digital e virtual do  
13 ABÍLIO, Ludmila Costhek et al. Relatório Parcial de Pesquisa: Condições de trabalho em empresas  
de plataforma digital: os entregadores por aplicativo durante a Covid-19. São Paulo: REMIR, 2020.  
14 ABÍLIO, Ludmila Costhek. Uberização do trabalho: subsunção real da viração. Blog da Boitempo.  
São Paulo, 22 fev. 2017. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2017/02/22/uberizacao-do-  
frontier of power. New York: Public Affairs, 2019.  
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aplicativo atualiza o discurso neoliberal que interdita quaisquer regulações no  
mercado e, por isso, nada poderia impedir ou perturbar o desenvolvimento dessas  
empresas. Nem mesmo o alto custo humano dessas empreitadas16.  
A falta e a manipulação de dados dificultam a mobilização, o questionamento  
e a crítica às organizações empresariais. O caráter antidemocrático da falta de  
transparência não é irrelevante. Sem a real definição e dimensão das questões  
enfrentadas por trabalhadoras e trabalhadores nessas empresas, e dos eventuais  
abusos e fraudes cometidos por essas organizações, a formulação de políticas  
públicas é distorcida. Por isso, para as ciências do trabalho, a produção de dados  
sobre a organização do trabalho estabelecida nessas empresas passa a ser tarefa  
elementar.  
O empenho nessa tarefa foi intensificado nesta última década a partir da  
aparente contradição na qual vivemos: estamos na Era da Informação17, mas vivemos  
um apagão de dados sobre o trabalho nas empresas-aplicativo. Se a “informação é  
o novo petróleo”18, explorar esse recurso transforma-se em atividade crucial dentro  
das organizações empresariais para o controle do trabalho e do trabalhador. A falta  
de transparência nessa gestão é aspecto bem-conhecido no processo de uberização,  
desde o nível da atividade até o nível das legislações nacionais e da governança  
internacional.  
No nível da atividade, a etnografia conduzida por Ilan Fonseca de Souza19, na  
capital baiana, torna-se relevante material para compreensão da organização do  
trabalho estabelecida pelas empresas-aplicativo. O autor destaca dois eixos  
estratégicos para compreender a gestão da empresa-aplicativo Uber sobre seus  
trabalhadores, a ocultação e o despotismo. Souza aprofunda seus argumentos sobre  
a ocultação e explica como se dá a estratégia de ocultar a relação de subordinação  
que caracteriza o vínculo empregatício. O autor argumenta que essa dissimulação se  
16 ANTUNES, Ricardo (org.). Uberização, trabalho digital e indústria 4.0. São Paulo: Boitempo, 2020.  
17 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.  
18 PALMER, Michael. Data is the new oil. ANA Marketing Maestros. 03 nov. 2006. Disponível em:  
19SOUZA, Ilan Fonseca de. Na pista com a Uber: uma etnografia. Revista Direito e Práxis, Ahead of  
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no “incentivismo”, a partir de recompensas e punições estabelecidas pela  
empresa; e, igualmente, dá-se pelo “tarefismo”, ou seja, pela remuneração atrelada  
à quantidade de tarefas realizadas, numa estratégia que, nos termos marxianos,  
remete ao “salário por peça”20.  
O pedagogismo é outra tática lançada pela Uber, a ideia de um empreendedor  
que se forma a si mesmo é constantemente anunciada para os trabalhadores. Ainda,  
o estelionato é uma tática presente na gestão da plataforma, com bonificações que  
não são pagas em sua totalidade, sem que haja possibilidade de questionamento por  
parte do trabalhador. Souza explica como a Uber exercita o compartilhamento de  
riscos e o obscurantismo sobre sua força de trabalho. Os riscos do negócio são  
assumidos na ponta, pelo trabalhador, em uma espécie de repasse no qual as  
incertezas são impostas aos trabalhadores e as decisões e os lucros permanecem  
concentrados nas mãos da empresa. Essa concentração também está explícita no  
obscurantismo por meio do qual as informações sobre a organização do trabalho não  
são disponibilizadas ao motorista-parceiro, negando e interditando qualquer  
negociação sobre as condições de trabalho.  
No nível nacional e internacional, os chamados Uber Files, tornados públicos  
pelo jornalismo investigativo do The Guardian21, mostram como o apagão de dados  
funcionou para que fossem impossibilitadas investigações sobre a empresa em vários  
países da Europa. Além da ação direta de governos para aprovação de leis que  
trariam vantagens à empresa, como evidenciado nas trocas de mensagens entre o  
presidente francês Emmanuel Macron e Travis Kalanick, Chief Executive in Office  
(CEO) da empresa, à época. Igualmente, a desfaçatez desse processo é evidenciada  
no discurso do então vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no Fórum  
Econômico Mundial, em Davos, em 2016. Em sua fala, Biden faz referência a um CEO  
20 MARX, Karl. Capítulo nono: O salário à peça. In: MARX, Karl. O Capital - Livro 1: O processo de  
produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2015.  
21 DAVIES, Harry; GOODLEY, Simon; LAWRENCE, Felicity et al. Uber broke laws, duped police and  
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que daria a milhões de pessoas “a liberdade de trabalhar quantas horas desejarem,  
administrando suas vidas como bem desejarem”22.  
A gestão da desinformação no processo de uberização parece seguir as táticas  
do que vem sendo nomeado de guerra híbrida. Castro23 explora essa noção nas  
“plataformas algorítmicas”, em especial, no Facebook pela atuação política e  
eleitoral dessa plataforma nos últimos sete anos. Destrinchando seu argumento, o  
autor indica que as plataformas são cooptadas para essa guerra, fornecendo os  
exemplos das eleições de Donald Trump, nos Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro, no  
Brasil. Em ambos os casos, a desinformação e a infiltração de perfis falsos nas redes  
sociais comprovam a passagem dos artifícios de uso militar ao seu uso nas eleições  
para desestabilização da disputa, mobilização ou desmobilização dos vários grupos  
sociais em prol desses candidatos.  
A relação proposta por Castro, nos interessa como um paralelo para pensar o  
obscurantismo da uberização. Ao que parece, a gestão da desinformação funciona  
como gestão de guerra para o controle do trabalho e da desmobilização da ação  
política dos trabalhadores. A análise de Castro serve-nos, em específico, para  
compreender as táticas da iFood no Brasil, nos últimos anos. Essa empresa brasileira  
de entrega de refeições tem sido uma das mais engajadas nos mecanismos de  
ocultação e na gestão da desinformação para controle do trabalho e desmobilização  
dos trabalhadores. Três exemplos são significativos das práticas dessa empresa-  
aplicativo.  
O primeiro deles pode ser evidenciado pelo artigo de opinião de autoria de  
João Sabino na Folha de S. Paulo24. Na época dessa publicação, Sabino tinha o curioso  
cargo de “Líder de políticas públicas da iFood” e seu artigo se contrapunha às  
análises realizadas por um economista que indicava que a empresa seria um  
States. [S. l.: s. n.], 20 jan. 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=02AFIUA9igE.  
23 CASTRO, Julio Cesar Lemes de. Máquinas de guerra híbrida em plataformas algorítmicas. E-Compós,  
Brasília, DF, v. 23, p. 129, 2020. Disponível em: https://www.e-compos.org.br/e-  
compos/article/view/1929/1983. Acesso em: 01 set. 2023.  
24 SABINO, João. Sobre oligopsônios e entregadores, alguns números. Folha de S.Paulo, São Paulo, 29  
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“oligopsônio”. O Líder da iFood explica que o tratamento do articulista para com o  
funcionamento da empresa não utiliza “números locais do setor de entrega de  
comidas”. E segue sua explicação pontuando que a empresa é a maior foodtech da  
América Latina, com muito boa reputação, comprovada por rankings como os  
elaborados pela RepTrak Company. Segundo o Líder, 170 mil entregadores  
trabalhavam com o aplicativo no Brasil de 2020; conectados em média por três horas  
por dia e com rendimentos médios de R$9,50 por hora. Diz Sabino que, se subtraídas  
as horas de espera, considerando somente as horas trabalhadas, o valor médio de  
remuneração sobe para R$21,00, o que significa “mais de quatro vezes o preço-hora  
implícito no salário-mínimo”.  
As estatísticas de jornada de trabalho e de rendimento, elencadas por Sabino,  
não estão disponíveis para o escrutínio. As que estão disponíveis mostram o recorte  
enviesado do artigo que, realmente, deve ser pensado como propaganda; não pode  
ser considerado para uma análise rigorosa da situação e das condições de trabalho.  
Por exemplo, a pesquisa de reputação citada por Sabino não disponibiliza a  
totalidade da metodologia utilizada, nem nos relatórios encontrados para o ano de  
202025, nem para o ano anterior26. Não é possível saber como se chega à boa  
reputação, por exemplo entre os trabalhadores, já que a pesquisa se baseia na  
atitude das pessoas em geral, captadas nas redes sociais, sem aprofundamento sobre  
os métodos para os recortes dessas pessoas e dos pesos dados às atitudes coletadas  
por meio de Machine Learning, Natural Language Processing e Inteligência Artificial.  
Seguindo com o segundo exemplo, destacamos a propagação das chamadas  
cozinhas fantasmas (expressão do inglês ghost kitchens ou dark kitchens). Trata-se  
de cozinhas montadas unicamente para a entrega de comida via aplicativo. Não se  
trataria, portanto, de um restaurante, o que implica em uma regulação distinta e na  
maior dificuldade para fiscalização desses espaços. Impostos e regulações a que  
n%20Institute.pdf. Acesso em: 01 set. 2023.  
26  
set. 2023.  
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restaurantes estão submetidos não seriam facilmente aplicáveis às cozinhas  
fantasmas. Na cidade de São Paulo, em 2021, pela investigação realizada por William  
Cardoso na Folha de S. Paulo, de oito cozinhas fantasmas visitadas, cinco delas  
tinham pendências de regularização ou vistoria27. Além disso, o aluguel de espaços  
sem a finalidade declarada é uma forma de burlar a regulação desses espaços.  
O terceiro e último exemplo está diretamente ligado à noção de guerra híbrida  
e diz respeito às práticas de desmobilização da ação política dos trabalhadores pela  
Foodtech. Práticas que vieram à tona por meio do trabalho de jornalismo  
investigativo da Agência Pública28 que, por mais de um ano, realizou entrevistas e  
teve acesso a documentos que comprovam tais práticas. Clarissa Levy, repórter  
responsável pela publicação das informações, explicita a “máquina oculta de  
propaganda do iFood”, com detalhes sobre a infiltração de pessoas que se passavam  
por entregadores em protestos e a criação de páginas nas redes sociais para  
disseminação de conteúdos e perfis falsos. O objetivo dessas práticas estava no  
estabelecimento de pautas de interesse da empresa-aplicativo, que poderiam  
distorcer as pautas dos trabalhadores e disputar a narrativa sobre as condições de  
trabalho. A reportagem explica o modelo de propaganda adotado pela iFood, nos  
seguintes termos:  
O modelo [da iFood] era o de propaganda lado B. Tipo o que o Bolsonaro faz  
com o gabinete do ódio, mas que as agências já fazem há muito tempo [...]  
O lado B é uma prática de campanha política, eles sempre fazem. Toda  
campanha grande tem uma equipe lado B que basicamente faz conteúdo  
sobre um inimigo. Sempre sem assinar.  
A tática de propaganda da iFood foi uma reação aos protestos que ganharam  
as redes, as mídias sociais e as ruas em 2020, na paralisação conhecida como Breque  
dos Apps, citada mais acima. Esse movimento foi em grande medida influenciado  
27 CARDOSO, William. Cozinhas fantasma se espalham por São Paulo durante a pandemia. Folha de S.  
Paulo, São Paulo, 11 jul. 2021. Disponível em: https://agora.folha.uol.com.br/sao-  
28 LEVY, Clarissa. A máquina oculta de propaganda do iFood. Agência Pública, 04 abr. 2022. Disponível  
OLIVEIRA, Flávia Uchôa de; NANDY, Shailen; VEDOVATO, Luis Renato; ASSIS, Ana Elisa. Trabalho e viração em  
empresas-aplicativo: um panorama da uberização na cidade de São Paulo durante a pandemia. Revista Jurídica  
Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, v.6, p. 1-40, 2023. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v6.153.  
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pelo grupo intitulado Entregadores Antifascistas e pela figura de Paulo Roberto Lima,  
o Galo, que ganha relevância mais ampla como liderança popular e tem sofrido  
perseguições por sua atuação29. Pouco mais de uma semana após a paralisação dos  
entregadores, a máquina de propaganda da iFood criou a página Não Breca Meu  
Trampo, no Facebook, com o intuito de distorcer as pautas da greve, disseminando  
uma perspectiva apolítica para o movimento. Um dos posts falsos criados pela  
campanha utilizava, segundo os idealizadores, uma linguagem tosca para facilitar a  
comunicação com os entregadores e pedia: “Greve política não!”. A reportagem  
destaca ainda a descrição da página no Facebook que anuncia:  
A gente quer melhorar de vida e ganhar mais. SEM patrão e salário mínimo.  
No corre bem-feito a gente tira mais e não tem chefe pra encher o saco. A  
gente quer liberdade pra trampar pra quem a gente quiser!  
A atuação dessa máquina de propaganda perdurou ao longo de 2021 e  
desacelerou os movimentos por melhores condições de trabalho. No entanto, a  
pressão por meio da ação política dos trabalhadores, da publicação de pesquisas  
como a Fairwork Brasil 2021: Por Trabalho Decente na Economia de Plataformas30,  
junto a condições materiais, como o aumento dos preços dos combustíveis, exigiram  
da iFood uma resposta concreta à principal pauta dos entregadores, o que resultou  
no aumento da taxa de entrega. Os avanços discretos em face da realidade de  
precariedade do trabalho devem ser reconhecidos e utilizados para a continuação  
das ações dos trabalhadores e para a formulação de políticas públicas que promovam  
proteção social e melhores condições de trabalho.  
Dessa forma, esta pesquisa busca somar-se ao empenho de produção de dados  
sobre o processo de uberização e contribuir para promoção de ações e políticas  
públicas voltadas ao trabalho, ao emprego e à renda. Nas páginas a seguir,  
29 LAROZZA, Felipe; SALLES, Iuri. Dos entregadores antifascistas ao fogo no Borba Gato, Paulo Galo  
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apresentamos a metodologia, os resultados e as análises empreendidas, na busca por  
dialogar com outras pesquisas realizadas nos últimos anos.  
2. Metodologia  
Em outros escritos, explicamos os caminhos percorridos e os objetivos do  
31  
projeto Pobreza Multidimensional no Brasil , desenvolvido ao longo dos últimos  
quatro anos em um esforço interinstitucional liderado pelas Universidades de Cardiff  
(Reino Unido) e Estadual de Campinas (Unicamp), e pela coordenação em conjunto  
com pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Pontifícia  
Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), além do apoio e financiamento  
de outras instituições como o Ministério Público do Trabalho. Em termos gerais, este  
projeto tem como pergunta central: o que brasileiras e brasileiros pensam ser um  
padrão de vida digno no Brasil de hoje? A partir da metodologia da Abordagem  
Consensual32, o projeto tem por objetivo possibilitar a superação da perspectiva  
monetária da pobreza, a participação dos vários grupos sociais na definição da  
dignidade e o questionamento de uma visão individualizante da pobreza e da  
vulnerabilidade. A partir da Abordagem, foi possibilitada, por exemplo, pensarmos  
no que é o trabalho decente para as brasileiras e brasileiros.  
Essa metodologia tem por passo primordial os grupos focais com parcelas das  
mais diversas na sociedade, na busca pela representatividade. A discussão promovida  
nesses grupos focais busca estabelecer um consenso sobre itens, serviços e outros  
32  
Disponível  
em:  
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aspectos imprescindíveis para que se tenha uma vida digna, levando em consideração  
a sociedade e o tempo em que se vive. Dos grupos focais o principal resultado é uma  
lista de itens e serviços intitulados Necessidades Socialmente Percebidas (NPS),  
organizada entre necessidades de adultos, de crianças e aquelas compartilhadas por  
pessoas de todas as idades. A partir dessa lista, há a possibilidade de ampliação do  
consenso pela aplicação de questionários, instrumento menos custoso e que  
possibilita o alargamento da participação social, o que não poderia ser alcançado  
pelos grupos focais.  
Desde a primeira experiência de grupos focais em Campinas, várias etapas do  
projeto foram conduzidas no estado de São Paulo e, mais recentemente, em um  
município baiano, deslocando o projeto do sudeste do país. Na etapa conduzida na  
capital paulista em 2021, ainda sob os momentos mais críticos da crise sanitária no  
país, foi aplicado um questionário com mais de 2300 participantes, compondo uma  
amostra representativa da cidade. O questionário continha perguntas sobre dados  
sociodemográficos, sobre condições de moradia e de vida, situação de trabalho e  
renda, além de questões sobre as Necessidades Socialmente Percebidas e Privação.  
Vale ressaltar que essa etapa implicou em cuidados e proteção dos participantes e  
da equipe de campo33. A amostragem e os detalhes do trabalho em campo estão  
detalhados em publicação recente34, no entanto, para que se possa compreender em  
termos gerais a amostra, a Tabela 1 apresenta a distribuição dos participantes por  
sexo, raça, idade, escolaridade e renda.  
33  
Agradecemos à equipe da Painel Pesquisas, responsável pelo trabalho em campo e pela condução  
cuidadosa em meio à crise sanitária.  
34  
Disponível  
em:  
2023.  
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Tabela 1 Distribuição do total dos participantes por sexo, raça, idade,  
escolaridade e renda  
Fonte: Elaboração própria, 2023  
Nas linhas a seguir, passamos aos resultados do recorte que mais nos interessa  
neste escrito: as trabalhadoras e os trabalhadores que indicaram trabalhar ou se virar  
em empresas-aplicativo.  
3. Apresentação de Resultados  
Para apresentação dos resultados, organizamos os dados em três seções. A  
primeira delas apresenta dados relativos a aspectos gerais sobre os participantes,  
com recortes de raça, gênero, idade, situação familiar e escolaridade. Em seguida,  
passamos às condições de trabalho e renda, com a apresentação de informações  
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sobre a situação de trabalho, a renda e a estabilidade da renda, e o tipo de atividade  
exercida pelos trabalhadores em empresas-aplicativo. Logo depois, passamos à  
descrição de aspectos relacionados à condição de vida, voltadas à insegurança  
alimentar e condições de moradia. A última seção registra os impactos da pandemia  
no trabalho, o recebimento de Auxílio Emergencial e a percepção da mortalidade em  
decorrência da Covid-19. Em todas as seções, buscamos justificar nossas escolhas e  
recortes. A apresentação dos resultados é sucedida da discussão com base na  
literatura sobre uberização, conforme anunciamos mais acima.  
3.1. Raça, gênero, idade, situação familiar e escolaridade  
Entre julho e setembro de 2021, dos 2303 participantes, 295 trabalhavam ou  
se viravam em empresas-aplicativo, o que corresponde a 13% do total da amostra.  
Dentre esses 295, 254 (86%) trabalhavam para empresas-aplicativo ocasionalmente  
para complementar suas rendas, ou seja, se viravam; enquanto 41 (14%) pessoas  
tinham o trabalho para essas empresas como principal atividade e fonte de renda.  
Em relação à distribuição dos participantes por gênero, 144 (48,8%) identificaram-se  
como mulheres e 151 (51,2%) como homens. A distribuição por raça deu-se da  
seguinte forma: autodeclarados negros (pretos e pardos, conforme nota técnica do  
IBGE35) correspondem a 161 (54,91%) participantes; os participantes autodeclarados  
brancos corresponderam a 126 (42,7%); autodeclarados amarelos e indígenas  
correspondem a 8 (1,4%) participantes, na seguinte composição 3 autodeclarados  
amarelos e 5 autodeclarados indígenas.  
Os dados de escolaridade mostram que entre pessoas não alfabetizadas e com  
ensino fundamental completo são 24 (8,2%) e 15 (5,1%), respectivamente. A maioria  
tinha ensino médio completo, eram 149 (50,5%) participantes; ainda, 52 (17,60%)  
participantes afirmaram ter o ensino médio incompleto. Os que, em 2021, cursavam  
ou já haviam concluído o ensino superior eram 50 (16,9%). Os pós-graduados (stricto  
35 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Histórico da investigação sobre cor ou raça  
nas pesquisas domiciliares do IBGE. In: IBGE. Características étnico-raciais da população: um estudo  
das categorias de classificação de cor ou raça. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.  
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sensu ou lato sensu) correspondiam a 5 (1,7%). Em relação à situação familiar,  
registramos dois dados que surgem como relevantes: o estado civil e a quantidade  
de crianças que moram no domicílio do participante. Os dados relativos ao estado  
civil mostram que 110 (37,3%) participantes estavam solteiros; 90 (30,5%) estavam  
casados e 22 (7,5%) amasiados, sem formalização da relação do casal. Divorciados e  
separados correspondiam a 40 (13,6%) participantes. Viúvos correspondiam a 23  
(7,8%) participantes e outros 10 (3,4%) preferiram não detalhar seu estado civil.  
Buscamos saber da situação familiar a partir da grupalidade de pessoas que  
residem no mesmo domicílio. Isso inclui indicar se havia crianças residindo no  
domicílio dos participantes. No entanto, não foi possível saber se os dados sobre  
crianças correspondem à paternidade ou à maternidade dos participantes.  
Argumentamos que, registrar se crianças moram no domicílio do participante é um  
dado significativo para pensar em políticas públicas voltadas a grupos familiares com  
crianças e adolescentes que estão mais vulneráveis e necessitam de proteção social  
garantida por lei. Sobre esses dados, é possível afirmar que a maioria, exatamente  
164 (55,6%) participantes, indicou que em suas casas não moravam crianças; 103  
(34,9%) residiam com até duas crianças em seu domicílio; 28 (9,5%) participantes  
tinham entre três e cinco crianças residindo em seu domicílio. Em um esforço de  
síntese, a Tabela 2 detalha a distribuição da amostra por sexo, raça, idade, estado  
civil e escolaridade.  
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Tabela 2 Distribuição dos trabalhadores em empresas-aplicativo por sexo,  
raça, idade, escolaridade e renda  
Fonte: Elaboração própria, 2023  
Pela centralidade da relação entre raça e gênero para compreensão no  
mercado de trabalho brasileiro36, destacamos que 77 (53,5%) mulheres  
autodeclararam-se pretas e pardas, 64 (44,4%) brancas, e amarelas e indígenas são  
1 (0,7%) e 2 (1,4%), respectivamente. Entre os homens, pretos e pardos  
correspondem a 84 (55,6%) participantes, enquanto autodeclarados brancos  
correspondem a 62 (41,1%). Amarelos e indígenas são 2 (1,3%) e 3 (2,0%),  
respectivamente.  
36  
Disponível  
em:  
em: 01 set. 2023.  
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empresas-aplicativo: um panorama da uberização na cidade de São Paulo durante a pandemia. Revista Jurídica  
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3.2. Condições de trabalho e renda  
Ao serem questionados sobre sua situação de trabalho, 70 (23,7%)  
participantes disseram estar empregados no setor privado; os autônomos  
correspondiam a 69 (23,4%) participantes. Trabalhadores informais e desempregados  
eram 55 (18,6%) e 41 (13,9%) participantes, respectivamente.  
Outro aspecto que buscamos levantar está relacionado à renda e à  
estabilidade da renda. Procuramos registrar não apenas o montante recebido advindo  
de trabalho pelo participante no último mês, mas compreender se havia estabilidade  
nesse valor ao longo dos últimos meses. A maioria dos participantes, exatamente 148  
(50,2%), ganham até R$ 2.200,00. Foi registrada uma significativa instabilidade de  
renda, com 238 (75,2%) participantes afirmando ter renda mais ou menos estável e  
muito instável, variando muito de mês a mês.  
Importa indicar que a maioria dos participantes, exatamente 105 (35,6%)  
deles, não detalhou o tipo de atividade realizada, indicando apenas trabalhar ou se  
virar em empresas-aplicativo. Cruzando os dados de situação de trabalho e tipo de  
atividade, foi possível identificar que 5 (4,76%) participantes que não detalharam o  
tipo de atividade afirmaram ser trabalhadoras domésticas quando questionadas sobre  
sua situação de trabalho, sendo 3 mulheres pretas, 1 mulher branca e 1 homem  
preto.  
Entre aqueles que detalham o tipo de atividade realizada, 66 (22,4%) eram  
motoristas de transporte individual e 51 (17,3%) realizavam serviços de entrega.  
Serviços de beleza também estão entre os tipos de atividade mencionadas, 27 (9,2%)  
dos participantes realizavam serviço de manicure e 17 (5,8%) de cabelo. Serviços de  
costura também foram mencionados por 23 (7,8%) participantes. Os serviços  
educacionais surgem discretamente na amostra, 5 (1,7%) participantes indicaram  
realizar atividades voltadas à educação e ao ensino de idiomas em empresas-  
aplicativo. Ao relacionarmos o tipo de atividade por gênero, temos a presença quase  
triplicada de homens nos serviços de entrega e de motorista, e a presença quase  
absoluta de mulheres nos serviços de beleza e de costura. O Gráfico 1 apresenta essa  
relação.  
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Gráfico 1 Relação entre tipo de atividade e gênero  
Fonte: Elaboração própria, 2023  
Entre aqueles que detalham o tipo de atividade realizada, 66 (22,4%) eram  
motoristas de transporte individual e 51 (17,3%) realizavam serviços de entrega.  
Serviços de beleza também estão entre os tipos de atividade mencionadas, 27 (9,2%)  
dos participantes realizavam serviço de manicure e 17 (5,8%) de cabelo. Serviços de  
costura também foram mencionados por 23 (7,8%) participantes. Os serviços  
educacionais surgem discretamente na amostra, 5 (1,7%) participantes indicaram  
realizar atividades voltadas à educação e ao ensino de idiomas em empresas-  
aplicativo.  
3.3. Condições de vida  
Para investigar as condições de vida dos participantes, estabelecemos, por  
meio da Abordagem Consensual, o nível de privação a que estão sujeitos esses  
trabalhadores. O nível de privação é consolidado por meio da lista de itens que são  
socialmente percebidos como necessidade para um padrão de vida digno, desde  
alimentação a atividades sociais e lúdicas, as já mencionadas Necessidades  
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Socialmente Percebidas. Perguntamos, por exemplo, se esses trabalhadores  
conseguem comer proteína animal todos os dias. Em caso de resposta negativa,  
perguntamos sobre os porquês de não conseguirem consumir o alimento todos os  
dias, com as seguintes opções de resposta: por não poderem pagar pelo alimento;  
por não desejarem consumir o alimento; ou, ainda, por outros motivos, como por  
exemplo, não terem fácil acesso ao alimento no local onde vivem.  
Se o motivo de não terem o item for relacionado a não poderem pagar pelo  
alimento, consideramos que há uma privação forçada. Para cada item que o  
participante indica não ter, os motivos relacionados a não poderem pagar são  
registrados e formam um índice de privação forçada. Estabelecido esse índice,  
passamos a relacioná-lo ao acesso a recursos materiais, o que inclui a renda, mas  
não se limita a esse dado. Na capital paulista, a partir dos 2300 participantes (total  
da amostra) verificamos que a situação de pobreza é acentuada quando da privação  
forçada de três ou mais itens percebidos como necessários para um padrão de vida  
digno e quando da renda familiar menor do que R$ 2.200,00. Esses parâmetros foram  
utilizados para agrupar em faixas os mais protegidos e os menos protegidos na  
capital. A Tabela 3 detalha esse agrupamento.  
Tabela 3 Agrupamento para diferenciação de pobres e não pobres no total da  
amostra estudada  
Fonte: Elaboração própria, 2023  
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Quando aplicamos esses parâmetros da capital para o recorte da amostra de  
trabalhadores em empresas-aplicativo, temos 183 (62%) trabalhadores com renda  
igual ou inferior a R$ 2.200,00. Apenas 24 (8,13%) deles afirmam não passar por  
nenhuma privação forçada. Os que afirmam que são privados de um a três itens  
percebidos socialmente como necessários para um padrão de vida digna  
correspondem a 99 (33,55%). Aqueles que estão privados de mais de 3 a 6 itens  
correspondem a 82 (27,79%) participantes. A privação de mais de seis itens é a  
realidade para 90 (30,50%) participantes.  
Além da relação entre privação forçada e renda, a insegurança alimentar para  
esse grupo foi avaliada a partir da Escala de Vivência da Insegurança Alimentar (FIES  
- Food Insecurity Experience Scale) que mensura tanto a falta de acesso à comida,  
quanto a falta de acesso à comida saudável e de qualidade37. São significativos o  
número de participantes que afirmaram preocupação por não ter comida suficiente  
por falta de dinheiro ou de outros meios para ter comida e que indicaram comer  
apenas alguns tipos de alimentos por falta de dinheiro ou de outros meios para obter  
comida, 135 (45,8%) e 122 (41,4) participantes, respectivamente. Os dados da  
amostra total para esses dois itens são 468 (20,3%) e 379 (16,5%). Nesse sentido,  
temos na comparação entre o total da amostra e os trabalhadores em empresas-  
aplicativo, mais que o dobro de participantes trabalhadores em empresas-aplicativo  
indicando preocupação e pouca variedade de sua alimentação por falta de recursos  
e de acesso. A Tabela 4 apresenta os percentuais de resposta para cada pergunta da  
escala de insegurança alimentar entre os trabalhadores em empresas-aplicativo.  
37 CAFIERO, Carlo; VIVIANI, Sara; NORD, Mark. Food security measurement in a global context: the  
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