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Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano
Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região
GIRARDI, Marcia da Cruz; ABREU, Anderson Jordan Alves. Escravidão digital: trabalho uberizado e a(s) violência(s)
trabalhista(s) sofrida(s) pelos trabalhadores algorítmicos. Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano,
Campinas, v. 5, p. 1-40, 2022. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v5.135
trabalho algorítmico. Em 2019 estimou-se uma média de quatro milhões de
trabalhadores por aplicativo no Brasil, entre os quais se destacam aqueles que
trabalham junto às plataformas Uber, iFood, 99 e Rappi, empresas que no Brasil
detêm a maior parte destes “empregados uberizados”
12
.
Há ainda intenso debate na jurisprudência e na academia sobre se existe neste
tipo de trabalho o critério da subordinação, que caracterizaria o trabalhador
algorítmico como empregado da plataforma. Destaca-se, nesse plano, o surgimento
de uma nova forma de subordinação denominada subordinação algorítmica,
consignada na “presença digital” do empregador através do algoritmo, pelo qual se
dá a fiscalização do trabalho prestado, efetuada pela própria plataforma
13
.
Além da ideia de subordinação algorítmica, cunha-se neste prisma também o
termo autogerenciamento subordinado, conceituado como a condição do
“empreendedor de si mesmo”, aquele que supostamente possui autonomia sobre o
próprio trabalho, suas metas e condições, e sobre os preços do seu serviço,
subordinado unicamente às regras do algoritmo
14,15
.
Há, portanto, indicativos na literatura de que as plataformas “maquiam” a
real natureza do trabalho algorítmico, anunciando ao trabalhador por aplicativo uma
ideia de liberdade profissional quando na verdade tal relação possui natureza
empregatícia
16
. Nesse sentido, Barzotto, Miskulin e Breda afirmam que “na
subordinação dita algorítmica ou potencial, o trabalhador internaliza a fiscalização
do próprio trabalho, mas nem por isso deixa de ser hipossuficiente”
17
.
12
AMORIM, Henrique; MODA, Felipe Bruner. Trabalho por aplicativo: gerenciamento algorítmico e
condições de trabalho dos motoristas da Uber. Revista Fronteira – Estudos Midiáticos, v. 22, n. 1, p.
59-71, jan. – abr., 2020.
13
BARZOTTO, Luciane Cardoso; MISKULIN, Ana Paula Silva Campos; BREDA, Lucieli. Condições
transparentes de trabalho, informação e subordinação algorítmica nas relações de trabalho. In:
CARELLI, Rodrigo de Lacerda; CAVALCANTI, Tiago Muniz; FONSECA, Vanessa Patriota da (orgs.).
Futuro do trabalho: os efeitos da revolução digital na sociedade. Brasília: ESMPU, 2020. 472 p.
14
UCHÔA-DE-OLIVEIRA, Flávia Manuella. Saúde do trabalhador e o aprofundamento da uberização do
trabalho em tempos de pandemia. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 45, e. 22, 2020.
15
ABÍLIO, Ludmila Costhek. Plataformas digitais e uberização: Globalização de um Sul administrado?.
Contracampo, Niterói, v. 39, n. 1, p. 12-26, abr./jul. 2020.
16
BIANCHI, Sabrina Ripoli; MACEDO, Daniel Almeida de; PACHECO, Alice Gomes. A uberização como
forma de precarização do trabalho e suas consequências na questão social. Revista Direitos, Trabalho
e Política Social, Cuiabá, v. 6, n. 10, p. 134-156, jan. – jun., 2020.
17
BARZOTTO, Luciane Cardoso; MISKULIN, Ana Paula Silva Campos; BREDA, Lucieli. Condições
transparentes de trabalho, informação e subordinação algorítmica nas relações de trabalho. In: